
No ano de 1879, na cidade francesa de Lourdes, morria a jovem Bernadette Soubirous, com apenas 35 anos. Ela levou uma vida simples, porém, muito ligada à religião: era freira e também enfermeira, tendo dedicado boa parte de seu tempo ao tratamento de pessoas doentes. Muitos relatos sobre Bernadette estão ligados a visões de Nossa Senhora que a jovem teria presenciado durante a adolescência, e que chamaram a atenção para sua trajetória. Além disso, a população da época, em Lourdes, atribuiu-lhe os créditos pela cura de várias doenças, até então incuráveis, como a tuberculose.

Médicos e representantes da Igreja, entre outras pessoas que acompanharam a exumação, esperavam encontrar apenas restos mortais da freira francesa, mas, foram surpreendidos pelo corpo da jovem ainda intacto, ou seja, sem nenhum sinal de putrefação. Outras duas exumações foram realizadas, nos anos de 1919 e 1925, e, em ambas, o corpo de Bernadette Soubirous permanecia como no dia de seu funeral. Tal fato – aliado aos possíveis milagres que foram reconhecidos pela Igreja Católica – contribuiu para sua canonização.
A freira se tornou Santa Bernadette de Lourdes, em 1933, durante o pontificado do papa Pio XI. Seu corpo, intacto, está exposto, em um sarcófago, na igreja de Saint Gildard, localizada na cidade francesa de Nevers.
Explicação científica
Fenômenos como o ocorrido com o corpo de Bernadette Subirous são raros, e ficaram conhecidos como corpos incorruptos. Nestes casos, mesmo muito tempo após a morte, o organismo não entra em decomposição. Segundo o médico legista Demercindo Neto, professor da faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, o fenômeno é natural, resultante da desidratação do corpo. "Com o fim das atividades vitais, o organismo passa a ser consumido por bactérias, que surgem e sobrevivem por causa da umidade dos órgãos. Quando há uma desidratação muito rápida, elas [as bactérias] não conseguem concluir o processo decomposição, deixando o corpo em bom estado", explica o especialista.
O legista diz, ainda, que o corpo incorrupto é como se estivesse mumificado – assim como o dos faraós do antigo Egito –, porém, são conservados por um processo natural, tendo uma aparência mais próxima do normal. O professor também ressalta que, casos como de Bernadette Subirous, são considerados de grande importância para a Medicina Legal, uma vez que facilitam o entendimento das causas da morte, inclusive para esclarecimento de crimes, quando é o caso.
Fé
Segundo o padre José Cândido, professor de Teologia da PUC Minas, o corpo incorrupto é um fator secundário para a transformação de uma pessoa em santo ou santa. "Sem dúvida é um fenômeno impressionante, mas, o fundamental é que o candidato à canonização tenha praticado, de maneira heróica, as virtudes cristãs", afirma o religioso.
Apesar de a incorruptibilidade do corpo não ser considerado um fator essencial, o fenômeno é recorrente nos processos de beatificação ou canonização. "O número de corpos de santos e santas que, na exumação, se mostravam intactos é muito extenso. São centenas, talvez milhares, se considerarmos um período de quinhentos anos até os dias atuais", comenta o padre José Cândido. "É um sinal da bondade de Deus", completa o professor.
Ele cita, como exemplos, os casos de corpos incorruptos da Santa Catarina de Bologna e de São Filipe Neri, ambos falecidos há mais de 400 anos.
Confira mais fotos de corpos incorruptos da Igreja Católica:


