USP aponta que em áreas rurais perto de remanescentes da Mata Atlântica, o desmatamento pode ter estimulado os cachorros criados pela população local a se deslocarem para regiões onde restou algum tipo de vegetação. O levantamento do biólogo Fernando Ribeiro mostra que a presença desses animais nas florestas é mais comum que a de espécies nativas de carnívoros como a onça e a jaguatirica. O especialista alerta que para inibir os deslocamentos dos pets, é recomendada a manutenção e restauração de florestas nativas, além da distribuição estratégica de florestas plantadas de eucalipto.
O biólogo estudou o corredor entre as serras da Cantareira e Mantiqueira, área de Mata Atlântica com cerca de 300 mil hectares, entre o nordeste do estado de São Paulo e sul de Minas Gerais. "A região é considerada prioritária para conservação e conecta dois importantes remanescentes de Mata Atlântica", afirma Fernando Ribeiro. O especialista avaliou 12 áreas com aproximadamente 3 mil hectares cada. O grau de desmatamento encontrado nesses locais variou entre 10% e 50% da cobertura florestal nativa, e no número de cachorros criados pela população rural estava entre 45 e 660 animais.
Apesar de os cães que invadem os remanescentes de mata serem criados pela população local, segundo o biólogo, eles apresentam comportamento de vida livre, movimentando-se pelas paisagens rurais e adentrando remanescentes de mata, mesmo aqueles que se encontram longe de seus "donos". "A pesquisa registra, por exemplo, movimentos de até 3 km entre o lugar de criação e o remanescente invadido", destaca Ribeiro.
A pesquisa aponta que o número de cachorros que entram nos remanescentes de Mata Atlântica chega a 24% da população total de pets criados entre as serras da Cantareira e Mantiqueira. "Esse número é expressivo e indica que este animal está, hoje, entre os carnívoros mais abundantes nas florestas remanescentes, sendo mais comum que espécies nativas como onças, jaguatiricas, gatos-do-mato e cachorros-do-mato", comenta o pesquisador da USP.
Solução
Fernando Ribeiro diz que, ao lado de métodos de controle populacional, como a castração, e de restrição de movimentação, como os donos impedirem que os cães saiam livremente das casas, a manutenção e a restauração das florestas são igualmente importantes para controlar a invasão. "Elas agem como barreiras à movimentação, impedindo que esses animais acessem áreas florestais mais distantes dos locais de criação", explica o biólogo.
Além disso, os resultados sugerem que o plantio de florestas de eucalipto também ajudam a limitir a movimentação dos cães. "Sua distribuição espacial na paisagem poderia ser usada de maneira a barrar estrategicamente a movimentação de cães em áreas de maior interesse para a conservação das espécies nativas", enfatiza Ribeiro.
(com Jornal da USP)
Um pesquisa do Instituto de Biociências da MEIO-AMBIENTE
Desequilíbrio ambiental: estudo mostra que cães estão invadindo áreas remanescentes de Mata Atlântica
Um biólogo descobriu que os cachorros estão deixando as residências e passando a viver nos resquícios de mata no sul de Minas
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