Para Mário Menel, presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiap), esse crescimento logo vai se destacar na matriz elétrica e, por essa razão, é necessário um debate desde agora, para que haja tempo de desenvolver um planejamento para as mudanças que estão por vir. Ele acredita, por exemplo, que o monopólio na comercialização de energia pelas empresas de distribuição deixará de existir. "A evolução tecnológica levará a gente até uma separação. A parte da comercialização fica com uma determinada empresa, ou várias empresas, e a parte de fio, para você não ter dois postes concorrendo, vai continuar com um monopólio", comenta o especialista.
Por sua vez, Carlos Alexandre Pires, diretor do departamento de Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energias, é necessário associar o estímulo para geração distribuída a mecanismos legais que garantam a manutenção do sistema de distribuição, inclusive para que a complementação da energia gerada pelo consumidor chegue até ele. "Isso está acontecendo em todos os lugares do mundo, onde a energia eólica e a solar estão ganhando importância, porque, do contrário, você não teria distribuidora de energia", diz o diretor.
Em países como Portugal, segundo Mário Menel, esse modelo que separa distribuição e comercialização da eletricidade já é uma realidade.
No Brasil, grandes consumidores como redes de hotelaria e indústrias já escolhem seus fornecedores de eletricidade0,. O presidente da Abiap explica que em cerca de cinco anos esse modelo chegará ao consumidor residencial. Para que a transição entre os modelos ocorra de forma tranquila, ele lembra que é necessário haver planejamento desde agora. "Não podemos esquecer que quem lastreou a expansão do sistema como nós conhecemos, hoje, em contratos de longo prazo, foram as distribuidoras, o mercado cativo. Agora, vão deixar de lastrear, então, o sistema financeiro vai ter que entrar no setor elétrico e oferecer produtos que nos deem capacidade para financiar essa expansão".
Atualmente, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é o único que financia o setor elétrico brasileiro, com linhas de crédito de até 80% para energia fotovoltaica (solar), por exemplo – o banco não financia projetos que envolvam energia não renovável.
(com Agência Brasil).