As declarações foram dadas durante um seminário sobre as mulheres na justiça, realizado na Embaixada da França, em Brasília. Compunham a mesa a procuradora-geral da república, Raquel Dodge, e a advogada-geral da União, ministra Grace Mendonça.
A ministra Cármen Lúcia criticou o machismo ao responder os elogios feitos pelo embaixador da França, Michel Miraillet, que destacou que o Brasil é um dos poucos países com mulheres ocupando quatro cargos de cúpula no judiciário. Além das três que compunham a mesa, ele lembrou ainda da presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz.
A presidente do STF aproveitou para dizer que a presença de mulheres na cúpula do judiciário pouco teria significado para além de uma coincidência histórica numa sociedade "que não se acostumou que o nome autoridade não se declina, não tem sexo". Ela revela já ter sido barrada, por exemplo, de entrar na casa de amigos por funcionários que esperavam por um homem, jamais imaginando a possibilidade de que a presidente do Supremo fosse uma mulher.
A ministra ressalta ainda que a presença de mulheres na cúpula do judiciário brasileiro não se reflete nos números do judiciário, que tem muito menos juízas e procuradoras mulheres do que homens. Tampouco, segundo Cármen Lúcia, se reflete na representação política, ressaltando a baixa presença feminina no Congresso Nacional.
Cármen Lúcia, Grace Mendonça e Raquel Dodge foram unânimes em destacar a imposição de uma vida quase "monástica" às mulheres que almejem cargos de liderança. De acordo com elas, há um constrangimento constante da sociedade brasileira para que a mulher priorize as relações afetivas e a família, acima da própria realização pessoal, o que não ocorre, nem de perto, em relação aos homens.
"O simples querer feminino é encarado como uma forma de ousadia. Ainda que ocupando um cargo que tenha uma percepção de autoridade, ainda somos vistas, sim, com estranheza", afirma disse Grace Mendonça.
Em sua fala, Cármen Lúcia faz questão de destacar que a face mais grave desse constrangimento social em relação à mulher se expressa no feminicídio.
"Continua havendo mulheres mortas, e não apenas pelos companheiros , mortas por uma sociedade que não vê que a mulher não é a causadora do feminicídio, que é um homicídio causado somente por ela ser mulher", comenta a mineira de Montes Claros.
(com Agência Brasil)