Como se sabe, a leishmaniose é uma doença causada por protozoários de mais de 20 espécies diferentes de Leishmania. Presente em 98 países, ela atinge 1,3 milhão de pessoas todos os anos. No Brasil, entre 2005 e 2015, houve redução dos casos de leishmaniose visceral em 9%, e a incidência da forma tegumentar da doença caiu 27%. Apesar dos números animadores levantados pelo Ministério da Saúde, a leishmaniose ainda é uma doença endêmica que mata cerca de 50 mil pessoas todos os anos no mundo – 90% dessas mortes estão concentradas na América do Sul.
Um estudo realizado por Lourena Costa, em seu doutorado na Faculdade de Medicina da UFMG, testou antígenos que podem ser usados no desenvolvimento de vacinas e métodos de diagnóstico para leishmaniose visceral – humana e canina – e tegumentar humana, nas formas mucosa e cutânea.
Foram feitos testes de imunogenicidade, visando ao desenvolvimento da vacina, e de antigenicidade, que favoreceram a criação do método de diagnóstico da doença. "Buscávamos antígenos para uma molécula-alvo. Na minha pesquisa, essa molécula-alvo são os anticorpos dos pacientes, humanos ou caninos, portadores da leishmania ativa. Colocamos os anticorpos dos doentes em uma solução com vários fagos [vírus que infectam apenas bactérias] diferentes. Alguns se ligaram à molécula e ali ficaram aderidos", explica a pesquisadora. No caso do diagnóstico, ela acrescenta que os fagos conseguiram identificar o que era positivo e o que era negativo para a doença. "Foi possível separar amostras de pessoas sadias ou que têm outras doenças, como Chagas, cujo diagnóstico é comumente confundido com o da leishmaniose", completa a ex-doutoranda.
Os testes possibilitaram o desenvolvimento do exame que diagnostica os dois tipos da enfermidade e da vacina, também para as duas modalidades. As duas descobertas podem beneficiar humanos e cães. "Já existe a Leish-Tec, vacina desenvolvida também na UFMG, para cães. A pesquisa realizada em meu doutorado traz, pela primeira vez, uma vacina de amplo espectro capaz de induzir uma proteção imune frente a diferentes espécies de Leishmania", conta Lourena.
O grupo de pesquisa integrado por ela planeja iniciar os testes da vacina em 2018, com hamsters, e, em um futuro próximo, em cães, por meio de parceria com a Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Só depois poderão ser feitos os experimentos em primatas e humanos. "Como os fagos não são patogênicos, poderemos testar a vacina em humanos mais rapidamente. A leishmaniose ainda mata, e há muitos casos subnotificados. Com diagnóstico rápido, sensível e específico, teremos condições de tratar os pacientes e evitar os óbitos", afirma a autora da tese de doutorado.
(com portal da UFMG)
CIÊNCIA
Pesquisa da UFMG pode resultar em vacina e diagnóstico da leishmaniose humana e canina
A doença mata 50 mil pessoas todos os anos no mundo
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