Estado de Minas BEM-ESTAR

Será que aumentar o preço das bebidas ricas em açúcar ajuda a reduzir a obesidade?

Especialistas comentam a relação entre refrigerantes e néctares de frutas com o aumento de peso da população


postado em 24/11/2017 10:50 / atualizado em 24/11/2017 11:09

Brasil estuda taxar bebidas açucaradas, como os refrigerantes, para tentar reduzir o crescimento da obesidade na população. Mas, será que isso funciona?(foto: Pixabay)
Brasil estuda taxar bebidas açucaradas, como os refrigerantes, para tentar reduzir o crescimento da obesidade na população. Mas, será que isso funciona? (foto: Pixabay)
A obesidade é um problema que atinge um em cada cinco brasileiros, segundo a pequisa Vigitel 2016, do Ministério da Saúde. Uma medida para tentar frear o sobrepeso na população é a restrição do consumo de bebidas ricas em açúcar, especialmente os refrigerantes. A ideia é que aumentar os impostos sobre esses produtos pode fazer com que as pessoas deixem de comprar  a bebida açucarada e passe a ter uma vida mais saudável. Assim, os brasileiros ingeririam menos calorias por dia, o que, em tese, reduziria os alarmantes índices de doenças como a obesidade.

O problema é que alguns países que adotaram o aumento de preço não conseguiram reduzir a "epidemia" de sobrepeso. Na Dinamarca, por exemplo, o chamado "imposto da gordura", que abrangia também as bebidas açucaradas, foi revogado após um ano de duração, em 2011. Durante o período, 80% da população não mudou os hábitos de consumo e muitos migraram para produtos mais baratos. Em casos extremos, parte dos consumidores passou a fazer compras nos países vizinhos.

Em 2014, o México colocou em prática a taxação, aumentando em 10% o valor dos gordurosos e açucarados. Nos primeiros anos, verificou-se uma leve queda nas vendas. Com o passar do tempo, entretanto, veio o efeito reverso: a procura por refrigerantes voltou a crescer e, embora o consumo diário de calorias tenha diminuído, em dois anos a média do Índice de Massa Corporal (IMC) da população mexicana continuava a aumentar.

Segundo a nutricionista Marcia Daskal, o ritmo acelerado das grandes cidades tem relação direta com a alimentação. "Com pouco tempo para a refeição, a tendência é se alimentar fora de casa, já que é a opção mais rápida. Por consequência, o ato de comer se tornou um momento de pouca ou nenhuma atenção aos sinais do corpo, como o da saciedade", comenta a especialista. Isso acabaria levando ao aumento do peso.

Além disso, para o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo, a obesidade não está relacionada a um ingrediente específico. "O problema é profundo e as autoridades e profissionais de saúde devem entender que ações de educação não acontecem no curto prazo. Hoje, visando um impacto imediato no balanço calórico, a população caminha para um estilo de vida insustentável, cortando alimentos considerados ‘vilões’ sem pensar em uma mudança comportamental como um todo. Isto é muito sério", afirma o médico.

Curiosamente, os dados da última pesquisa Vigitel mostram que houve uma redução de 14% no consumo de refrigerantes e sucos artificiais, em 10 anos, como resultado dos debates realizados na sociedade civil brasileira sobre qualidade de vida e como se alimentar melhor. Porém, nota-se que a população com sobrepeso continua a crescer no país. "Isto mostra que a necessidade de mudar hábitos alimentares se dá por meio da educação nutricional. Ainda existe uma falta de conhecimento sobre escolhas conscientes que façam sentido dentro de cada estilo de vida, contemplando também a prática de atividades físicas", diz Marcia Daskal.

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