Atualmente, vivemos num mundo em que a diversidade vem ganhando destaque, e as questões de gênero passam a ser cada vez mais discutidas. Com isso, é normal que tenhamos pessoas assumindo uma orientação sexual diferente daquela que vinha sendo vivenciada. Muitas vezes, a mudança de gênero ocorre justamente durante o casamento.
Segundo a psicóloga Denise Miranda de Figueiredo, do Instituto do Casal, em São Paulo, houve um aumento no número de homens casados assumindo a homossexualidade, assim como de mulheres casadas que acabam preferindo se relacionar com outras mulheres. "O que vemos, hoje, é um novo movimento. Algumas famílias estão se deparando com esta situação: o homem ou a mulher se assume homossexual e decide pelo divórcio para poder viver de acordo com a sua verdadeira orientação sexual", comenta a especialista.
Entretanto, trata-se de uma situação complexa e que pode não ser resolvida de um dia para o outro. Além disso, as decisões que precisam ser tomadas devem ser pensadas com calma, o que não é fácil quando você descobre que o (a) parceiro (a) tem outra preferência sexual. "Ninguém está preparado para receber esse tipo de notícia", diz a psicóloga.
Conforme a também psicóloga Marina Simas de Lima, a pessoa que é homossexual, mas mantém uma relação hétero, vive em dois mundos diferentes. "Ele ou ela pode se sentir culpado , precisa inventar desculpas o tempo todo, mentir e, nos momentos íntimos, é possível que o corpo esteja lá, mas a mente não. O sexo pode se tornar desconfortável e causar ressentimento, ou seja, pode-se colocar 'culpa' no outro por não vivenciar a sexualidade da forma como ele gostaria", afirma.
Por outro lado, a questão de assumir-se ou não está quase sempre ligada à imagem que a pessoa tem na sociedade. "Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade homofóbica e moralista. Assumir a homossexualidade, depois de anos de casamento, implica em correr o risco de perder o status, de arranhar a imagem perante a família, os filhos, parentes e amigos e de perder a segurança que essa relação oferecia. Por isso, é comum que muitos homens, principalmente, passem anos casados para fazer isso depois dos 40, 50 anos", comenta Marina.
Traição
Outra questão que merece destaque, conforme as especialistas, é que uma pessoa homossexual, ou mesmo bissexual, quando vive num casamento hétero, acaba tendo mais chance de manter relações sexuais fora da relação. "A traição sempre é um trauma dentro de uma relação, porém, quando é com uma pessoa de outro sexo, pode ser um golpe ainda mais duro e difícil de lidar", comenta Denise Figueiredo.
A mulher, ou o homem, que descobre que seu/sua parceiro (a) é homossexual passa por momentos complicados, na opinião da psicóloga. "A maioria se culpa, acha que isso aconteceu por alguma falha em si. Tentam de todas as maneiras encontrar onde está o erro, porém não há erros. Trata-se apenas de uma orientação sexual que não está ligada ao cônjuge", diz.
Como agir
Apesar dessa situação vivenciada pelo casal parecer um problema sem solução, é possível resolver a questão buscando orientação de um profissional, principalmente quando envolve os filhos. "Nem sempre as crianças têm maturidade para entender o que é a homossexualidade e que o pai ou a mãe estão se separando por conta deste motivo. Mas, cada família tem seu próprio funcionamento e isso deve ser respeitado. A terapia pode ajudar o casal e também os parceiros, individualmente", afirma Marina Lima.
As especialistas esclarecem que contar a verdade é sempre a melhor coisa a fazer. Elas lembram ainda que, normalmente, após o "trauma" inicial, alguns casais conseguem desenvolver uma amizade, que é essencial para as famílias com crianças.
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