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Poucos sabem, mas o terreno do edifício Acaiaca, no centro de Belo Horizonte, já deu lugar a uma igreja

Logo após a inauguração da nova capital mineira, a Igreja Metodista se instalou na cidade


postado em 02/01/2018 08:28 / atualizado em 02/01/2018 08:28

Entre 1905 e 1943, o terreno que, hoje, abriga o edifício Acaiaca, no centro de Belo Horizonte, era ocupado pela primeira igreja metodista da cidade(foto: Projeto PróMemória CMBH/Reprodução e Google Street View/Reprodução)
Entre 1905 e 1943, o terreno que, hoje, abriga o edifício Acaiaca, no centro de Belo Horizonte, era ocupado pela primeira igreja metodista da cidade (foto: Projeto PróMemória CMBH/Reprodução e Google Street View/Reprodução)
Aproveitamos o aniversário de 120 anos de Belo Horizonte, completados em dezembro passado, para abrir seu baú de histórias, que reserva novas descobertas, desenterradas dos tesouros escondidos na capital mineira. Você sabia, por exemplo, que o edifício Acaiaca, no centro da cidade, foi sede da primeira igreja metodista de BH? À época, o terreno foi doado pela prefeitura, devido a boa relação entre os líderes da comunidade cristã e o então prefeito Bernardo Pinto Monteiro.

Durante 38 anos, o templo da igreja teve como "casa" o terreno que abriga o prédio comercial mais alto de BH, com mais de 120 m de altura. Atualmente, a instituição religiosa está localizada na rua dos Tupis, também no miolo da capital.

Os metodistas foram o primeiro grupo protestante a chegar a Belo Horizonte, quando a cidade ainda era um pequeno arraial denominado Curral Del Rey. A primeira visita ocorreu em 1881, conforme pesquisa realizada pelo presbítero Jonas Mendes Barreto, da Igreja Metodista e doutor em ciência da religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Os líderes protestantes, no entanto, não foram bem recebidos pela comunidade local, que era tradicionalmente católica.

"Embora não tenham sido bem recebidos na primeira tentativa, os pregadores metodistas não recuaram, perseveraram firmes no propósito de conquistar espaço na futura capital de Minas", revela o religioso.  A visita ao Curral Del Rey fazia parte da estratégia evangelizadora dos metodistas em Minas Gerais, na época.
Os protestantes já sabiam dos rumores de que o arraial poderia se tornar a capital do estado, o que se confirmou no dia 12 de dezembro de 1897, com a inauguração da então intitulada "Cidade de Minas". Somente em 1901 o nome foi mudado para Belo Horizonte. "Portanto, quando a capital foi transferida de Ouro Preto para Belo Horizonte, já se encontrava naquela cidade um grupo significativo de metodistas", conta Jonas Barreto.

No ano de 1895, a direção da Igreja Metodista ficou sob a responsabilidade do reverendo J. E. Tavares, fato que teve uma grande importância na relação entre a instituição e o edifício Acaiaca.

Segundo Jonas, as habilidades intelectuais e culturais do reverendo Tavares possibilitaram um bom relacionamento com as autoridades locais, entre elas, o então prefeito Bernardo Monteiro, um liberalista aberto a novas filosofias.

Assista, abaixo, a um breve passeio pelo centro de BH em 1911, numa simulação feita pelo projeto PróMemória, da Câmara Municipal de Belo Horizonte:

Inauguração do templo

Com a fundação da nova capital mineira, em 1897, o conselho municipal tinha como meta apressar o desenvolvimento da cidade. Para isso, a administração ofereceu vantajosas condições a qualquer sociedade benemérita que quisesse estabelecer residência ou sede no município recém inaugurado.

Atento aos interesses da prefeitura, o reverendo metodista expôs ao executivo municipal o plano elaborado pela igreja para construção de uma casa paroquial, um templo e uma escola no centro da nova capital.

A prefeitura, então, propôs a doação de um quarteirão, na parte central da cidade, entre a avenida Afonso Pena e as ruas Espírito Santo, Tamoios e Bahia, onde, hoje, está localizado o edifício Acaiaca.

Conforme explica o presbítero Jonas Barreto, a cessão gratuita do terreno é reflexo direto da constituição liberal de 24 de fevereiro de 1891, Art. 5º e 7º, que estabeleceu a separação entre igreja e estado, abrindo uma possibilidade mais efetiva de desenvolvimento e afirmação no cenário político-social para outros grupos religiosos, como os protestantes, por exemplo.

Os recursos para a construção do templo, porém, foram levantados pelos próprios metodistas. A pedra fundamental do templo foi lançada em 31 de dezembro de 1904, mesmo ano de inauguração do colégio metodista Izabela Hendrix – atualmente localizado na rua da Bahia, no bairro de Lourdes, região centro-sul de BH.

Já o templo religioso foi oficializado no dia 2 de julho de 1905, sendo o primeiro espaço protestante da capital mineira. Conforme relata o livro Belo Horizonte Completou 50 anos (1947), a edificação era toda de alvenaria, feita com capricho e modelada conforme as obras do Palácio da Liberdade.

A origem do Acaiaca

As obras do edifício Acaiaca, cujo nome homenageia uma tribo de índios do Vale do Jequitinhonha, cidade natal do empreendedor Redelvim Andrade, comerciante de pedras preciosas, começaram em 1943. Três anos antes, o empresário fez o primeiro contato com a comunidade metodista, mas ouviu um "não". Ele não desistiu e ofereceu 2,5 mil contos de réis (cerca de R$ 307 mil).

O terreno de 26 mil m² foi adquirido da Igreja Metodista, que estava no local há 38 anos. Na época, era uma proposta irrecusável, parecida com as ofertas atuais dos times chineses por craques do futebol mundial. Segundo pesquisadores, o valor representou o maior negócio imobiliário desde o lançamento da pedra fundamental da cidade.

Hoje, o edifício conta com 29 pavimentos, cerca de 460 salas e um abrigo antiaéreo. Mas, a característica marcante do prédio são duas esculturas de rostos indígenas criadas pelo próprio arquiteto que projetou a construção, Luiz Pinto Coelho, genro do idealizador do arranha-céu, Redelvim Andrade.

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