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Cremes dentais para erosão e hipersensibilidade não funcionam, segundo estudo

Foram analisadas oito pastas de dente, e todas foram 'reprovadas' nos testes


postado em 09/02/2018 14:54 / atualizado em 09/02/2018 15:02

Segundo o estudo, todas as pastas de dente analisadas, que deveriam ajudar a tratar a erosão e a hipersensibilidade nos dentes, acabaram provocando perda de esmalte(foto: Pixabay)
Segundo o estudo, todas as pastas de dente analisadas, que deveriam ajudar a tratar a erosão e a hipersensibilidade nos dentes, acabaram provocando perda de esmalte (foto: Pixabay)
Atualmente, existem inúmeras opções de patas de dente que prometem reduzir a erosão dental e amenizar os sintomas da hipersensibilidade dentária. No entanto, em estudo feito na Universidade de Berna, na Suíça, nenhuma das nove pastas analisadas se mostrou capaz de diminuir um problema elementar à erosão e à hipersensibilidade dentinária: a perda de estrutura do esmalte do dente.

De acordo com o artigo, que foi publicado na revista científica Scientific Reports, todas as pastas testadas causaram, inclusive, diferentes graus de perda de superfície do dente. Nenhuma delas foi capaz de proteger o esmalte da erosão e da abrasão dental. Os autores do estudo ressaltam que esses tipos de cremes têm função na saúde bucal. Porém, devem ser usadas "como um complemento, e não, como tratamento em si". Este deve ser orientado por um cirurgião-dentista, que pode diagnosticar e analisar a melhor estratégia para cada paciente.

"Não é a pasta de dente que vai conseguir resolver o problema totalmente. A erosão dental é multifatorial, tem relação com a escovação e, principalmente, com a alimentação, que está se tornando cada vez mais ácida em virtude, por exemplo, dos alimentos industrializados", comenta a pesquisadora Samira Helena João-Souza, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) e principal autora do artigo.

A cientista afirma ainda que é preciso haver a associação de, pelo menos, três fatores para se tratar a erosão e a hipersensibilidade nos dentes: o tratamento acompanhado por um dentista; uso de pastas indicadas pelo profissional; e mudança no estilo de vida do paciente, principalmente nos hábitos alimentares.

A erosão dental é a perda de tecidos duros dentários causados por ácidos não bacterianos. Quando associada a ações mecânicas, como a da escovação, resulta no desgaste erosivo. "Estudamos as chamadas lesões cervicais não cariosas, quando ocorre a perda de estrutura dental não relacionada a bactérias, como é o caso da cárie. Nas clínicas, vemos pacientes com esse problema na região cervical do dente, entre a gengiva e o dente. O esmalte nessa área é mais fino e mais suscetível ao problema", esclarece a professora Ana Cecília Corrêa Aranha, também da USP e co-autora do estudo.

Nessas situações, é comum o paciente sentir incômodo ao beber ou comer algo gelado, quente ou doce. "Ele chega ao consultório achando que é cárie, mas se trata de uma exposição da dentina causada por escovação errada, com uma pasta de dente muito abrasiva, por exemplo, combinada a um alto e frequente consumo de bebida e alimentos ácidos", completa Aranha.

Existe uma forte relação entre a erosão dental e a hipersensibilidade dentinária. A primeira pode ser um dos fatores que provocam e mantêm a segunda.

"Estudos mostram que, para haver hipersensibilidade, é preciso que o paciente tenha a dentina exposta [túbulos abertos]. E um dos fatores para a exposição da dentina é a erosão. Foi por isso que no nosso estudo analisamos pastas de dente que apresentam esses dois atributos [antierosivo e dessensibilizante] como diferencial", afirma Samira João-Souza.

No total, foram testadas oito pastas dessensibilizantes e/ou antierosivas e uma pasta controle, todas encontradas em farmácias do Brasil ou da Europa. Entre elas, a Sensodyne Reparação e Proteção, da GlaxoSmithKline, e Regenerate (Enamel Science), da Unilever.

Sem "vencedoras"

De acordo com o estudo, o uso de todas as pastas analisadas apresentou perda de superfície progressiva do dente após os cinco ciclos de escovação. "Não há uma melhor e a indicação vai depender de cada caso. O teste mostrou que algumas tiveram menos perda de superfície do que outras, mas também não foi muito diferente da pasta controle. Estatisticamente, elas não diferiram, embora numericamente exista diferença", diz Ana Cecília Aranha.

"Agora, estamos fazendo outros trabalhos com dentina para pensar em possibilidades, pois o resultado mostrou algo preocupante: nenhuma das pastas foi capaz de prevenir erosão dental ou hipersensibilidade dentinária", completa a professora.

(com Agência Fapesp)

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