Apesar de ser um esporte coletivo, o desempenho individual de um atleta pode definir o resultado de um jogo ou mesmo de um campeonato, ressalta o psicólogo Daniel Donadio de Mello, responsável pelo estudo. "Especialmente em cobranças de pênalti, o destino da partida encontra-se nos pés do cobrador", comenta ao salientar que controlar a ansiedade que antecede as cobranças pode ser crucial na marcação ou não de um gol.
O pesquisador usou um protocolo chamado biofeedback, termo em inglês para retroalimentação, ou seja, qualquer processo por meio do qual uma ação é controlada pelo conhecimento do efeito de suas respostas. Com isso, ele queria reduzir o estado de ansiedade de atletas amadores de futebol de campo, que tinham idades variando de 15 a 16 anos.
Fica mais fácil entender o conceito aplicado na prática: antes das rodadas de cobranças de pênalti, foram introduzidos na rotina dos atletas alguns jogos de computador especialmente adaptados para dar retorno aos jogadores conforme a ansiedade fosse reduzindo. Ligados a aparelhos que captam sinais fisiológicos, tais como respiração e batimentos cardíacos, os atletas recebiam uma resposta imediata do jogo, que podia ficar mais fácil ou mais difícil, conforme o estado de ansiedade.
Os participantes foram avaliados antes de duas competições de pênaltis, que aconteceram antes e depois de quatro encontros com o pesquisador, que usou o protocolo de biofeedback associado à psicologia cognitivo-comportamental (aplicação de técnicas para modificar pensamentos, emoções e crenças disfuncionais do indivíduo). "Foram 34 atletas durante uma semana de trabalho", conta Daniel Mello, que considera curta a duração do experimento.
Antes de cada dia, foi aplicado um questionário internacionalmente reconhecido para medir a ansiedade dos atletas. "Os resultados foram interessantes porque notamos uma redução bastante significativa em jogadores que passaram pela intervenção", confirma o especialista.
Por exemplo, a pesquisa registrou redução de 28,3% da ansiedade cognitiva (presença de pensamentos negativos em relação ao seu desempenho desportivo); 18,64% na ansiedade somática (mudanças fisiológicas como aumento da frequência cardíaca, suor nas mãos, tensão muscular, palidez e mãos frias) e 16,28% na influência negativa na autoconfiança.
Campo fértil
Para Daniel Mello, novos estudos sobre os efeitos do protocolo de treinamento de biofeedback com técnicas da psicologia cognitivo-comportamental devem ser realizados, pois podem contribuir com informações úteis a comunidade científica e preparação mental dos atletas. "Psicólogos do esporte trabalham com técnicas semelhantes e esses estudos revelam resultados eficientes, ou seja, confirmam que é importante ter uma pessoa especializada na equipe esportiva, um psicólogo que esteja dentro das agremiações esportivas", destaca o pesquisador da USP.
Futuros trabalhos também devem ser feitos com um maior número de encontros de intervenção, para verificar se com um treinamento mais longo o efeito de redução de ansiedade poderia ser ainda mais significativo.
"Acredito que aumentar o número de encontros deve ajudar a medir um impacto maior. Algo que pode ser feito até com outras populações, com atletas profissionais, de outras modalidades, em outros estados, até mesmo em outros países", diz o psicólogo.
(com Jornal da USP)