Para fazer a investigação, os pesquisadores instalaram armadilhas em áreas de matas do Santuário do Caraça, importante ponto de ecoturismo localizado entre as cidades de Santa Bárbara e Catas Altas, região metropolitana de Belo Horizonte, com o intuito de capturar pequenos mamíferos, suspeitos de serem reservatórios do Leishmania. No decorrer de um ano – entre julho de 2013 e julho de 2014 –, eles capturaram 55 animais.
"Desses, cinco estavam infectados, o que representa 9% do total coletado. Nesta pesquisa, conseguimos isolar o parasita do hospedeiro, algo inédito em Minas Gerais, uma vez que, até então, só havia sido possível detectar o DNA do parasita nos roedores em tecidos parasitados", explica Gabriel Tonelli, pesquisador da Fiocruz Minas e responsável pelo estudo. Segundo ele, os resultados foram obtidos por meio de uma série de análises, que incluiu testes moleculares e diagnóstico parasitológico por isolamento do parasita em meio de cultura.
A pesquisa apontou que os roedores apresentaram infecção não somente na pele, mas também no baço e no fígado. Entretanto, nenhum dos animais capturados apresentou sinal clínico da doença. "Isso significa que eles carregam o parasito, mesmo não tendo nenhum sinal clínico, constatação que reforça a hipótese de que esses pequenos mamíferos podem ser reservatórios adequados para a L. braziliensis", afirma José Dilermando Andrade Filho, orientador da pesquisa.
O resultado aponta ainda para a possibilidade de que a região onde os roedores foram capturados seja uma área de transmissão silvestre do parasita, uma vez que estudos anteriores já comprovaram a existência, nesse ambiente, do vetor da doença. "Dessa forma, alguns cuidados preventivos, como o uso de repelentes e vestuário adequado, devem ser adotados pelas pessoas que visitam o local. Vale ressaltar que o próprio Santuário do Caraça já adota ações importantes, como o uso de armadilhas que impedem a circulação desses pequenos mamíferos nas áreas de hospedagem", comenta Dilermando.
Mesmo com essas ações, estudos contínuos na região são importantes para monitorar a situação das possíveis infecções e transmissões, já que, além de ser ponto turístico, o ponto turístico é cercado por centros urbanos.
Leishmaniose cutânea
A doença se caracteriza pelo aparecimento de lesões na pele ou nas mucosas do paciente. A enfermidade é causada por protozoários, sendo transmitidos ao homem pelas fêmeas do flebotomíneo, popularmente conhecidos como mosquito palha, cangalhinha e birigui.
O principal sintoma é o aparecimento de lesões na pele, de forma arredondada, profunda, avermelhada e cresce progressivamente com o passar dos dias. Quando o parasita abriga a mucosa do indivíduo contaminado, as feridas aparecem no nariz, na boca ou, em casos mais graves, na garganta e no sistema da laringe do organismo.
A leishmaniose cutânea vem apresentando diferentes padrões de transmissão, relacionados, muitas vezes, à penetração do homem em focos silvestres.
(com Agência Fiocruz)