Estado de Minas SAÚDE

Estudo da Fiocruz descobre que rato silvestre pode transmitir leishmaniose cutânea

Os animais podem ainda carregar o parasita e não apresentar sinais visíveis da doença, que é transmitida por um mosquito


postado em 02/02/2018 16:40 / atualizado em 02/02/2018 16:53

(foto: Pixabay)
(foto: Pixabay)
Cerca de 26 mil pessoas, todos os anos, são vítimas da leishmaniose cutânea no Brasil. Um estudo realizado pela Fiocruz de Minas Gerais mostra que os roedores, como os ratos silvestres, estão entre os principais hospedeiros da Leishmania braziliensis, parasita responsável por essa doença no país. A pesquisa, publicada recentemente na revista científica Plos One, demonstra a importância de incluir esses animais nas formas de prevenção do problema.

Para fazer a investigação, os pesquisadores instalaram armadilhas em áreas de matas do Santuário do Caraça, importante ponto de ecoturismo localizado entre as cidades de Santa Bárbara e Catas Altas, região metropolitana de Belo Horizonte, com o intuito de capturar pequenos mamíferos, suspeitos de serem reservatórios do Leishmania. No decorrer de um ano – entre julho de 2013 e julho de 2014 –, eles capturaram 55 animais.

"Desses, cinco estavam infectados, o que representa 9% do total coletado. Nesta pesquisa, conseguimos isolar o parasita do hospedeiro, algo inédito em Minas Gerais, uma vez que, até então, só havia sido possível detectar o DNA do parasita nos roedores em tecidos parasitados", explica Gabriel Tonelli, pesquisador da Fiocruz Minas e responsável pelo estudo. Segundo ele, os resultados foram obtidos por meio de uma série de análises, que incluiu testes moleculares e diagnóstico parasitológico por isolamento do parasita em meio de cultura.

A pesquisa apontou que os roedores apresentaram infecção não somente na pele, mas também no baço e no fígado. Entretanto, nenhum dos animais capturados apresentou sinal clínico da doença. "Isso significa que eles carregam o parasito, mesmo não tendo nenhum sinal clínico, constatação que reforça a hipótese de que esses pequenos mamíferos podem ser reservatórios adequados para a L. braziliensis", afirma José Dilermando Andrade Filho, orientador da pesquisa.

O resultado aponta ainda para a possibilidade de que a região onde os roedores foram capturados seja uma área de transmissão silvestre do parasita, uma vez que estudos anteriores já comprovaram a existência, nesse ambiente, do vetor da doença. "Dessa forma, alguns cuidados preventivos, como o uso de repelentes e vestuário adequado, devem ser adotados pelas pessoas que visitam o local. Vale ressaltar que o próprio Santuário do Caraça já adota ações importantes, como o uso de armadilhas que impedem a circulação desses pequenos mamíferos nas áreas de hospedagem", comenta Dilermando.

Mesmo com essas ações, estudos contínuos na região são importantes para monitorar a situação das possíveis infecções e transmissões, já que, além de ser ponto turístico, o ponto turístico é cercado por centros urbanos.

Leishmaniose cutânea

A doença se caracteriza pelo aparecimento de lesões na pele ou nas mucosas do paciente. A enfermidade é causada por protozoários, sendo transmitidos ao homem pelas fêmeas do flebotomíneo, popularmente conhecidos como mosquito palha, cangalhinha e birigui.

O principal sintoma é o aparecimento de lesões na pele, de forma arredondada, profunda, avermelhada e cresce progressivamente com o passar dos dias. Quando o parasita abriga a mucosa do indivíduo contaminado, as feridas aparecem no nariz, na boca ou, em casos mais graves, na garganta e no sistema da laringe do organismo.

A leishmaniose cutânea vem apresentando diferentes padrões de transmissão, relacionados, muitas vezes, à penetração do homem em focos silvestres.

(com Agência Fiocruz)

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