Revista Encontro

Saúde

Associação Médica Brasileira critica terapias alternativas adotadas pelo SUS

O problema seria o gasto público com práticas que não têm comprovação científica

Marina Dias
A decisão do Sistema Único de Saúde (SUS) de incorporar novas terapias alternativas não tem sido unanimidade.
Depois do anúncio, feito no dia 12 de março, a Associação Médica Brasileira (AMB) se posicionou contra o direcionamento de recursos da saúde para práticas nada convencionais como apiterapia, aromaterapia, bioenergética e imposição de mãos. "O SUS é uma proposta ambiciosa, de resgate à cidadania, mas que sofre desde sua criação com a falta de recursos e de graves problemas de gestão", comenta Lincoln Lopes Ferreira, presidente da AMB. "Somos totalmente contra colocar nesse sistema, já subfinanciado, obrigações que vão implicar em gastos, sendo que essas práticas não têm o menor fundamento e comprovação científica", completa o especialista.

Segundo Ferreira, a medida é grave, pois pode, em vez de prevenir ou ajudar na cura, retardar diagnósticos e tratamentos. Ele explica que toda doença tem um curso natural, e o melhor é intervir nele o mais rápido possível, pois quanto mais rápido, maiores as chances de cura – no caso do câncer de intestino, por exemplo, se o quadro é descoberto em estágio inicial, as chances de regressão são próximas de 90%, sendo que caem substancialmente à medida que a doença evolui. "A pessoa pode ir para a terapia alternativa entendendo que aquilo está resolvendo o problema dela, e atrasar em dias ou meses o diagnóstico ou o tratamento", afirma o presidente da AMB.

O médico faz questão de diferenciar as terapias não reconhecidas oficialmente pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) das especialidades autorizadas como homeopatia e acupuntura, que possuem embasamento científico e campo de atuação definido. "Estas são diferentes de um leigo, sem formação médica, que atua a partir de sua crença. As pessoas que quiserem, podem buscar estas práticas, mas estamos falando aqui de recursos públicos, de política de saúde e de um sistema que tem demandas extensas, como o aumento de casos de sífilis congênita, uma doença que praticamente só existia no século XVIII", diz Lincoln Ferreira.

Desde 2006, já eram oferecidos pelo SUS os seguintes tratamentos alternativos: acupuntura, homeopatia, fitoterapia, antroposofia e termalismo.
No ano passado, foram incluídas 14 práticas: arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação, musicoterapia, naturoterapia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki, shantala, terapia comunitária integrativa e ioga. Agora, somam-se à lista: apiterapia, aromaterapia, bioenergética, constelação familiar, cromoterapia, geoterapia, hipnoterapia, imposição de mãos, ozonioterapia e terapia de florais..