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Descoberto papel da 'proteína da longevidade' no envelhecimento do cérebro

A klotho é essencial para que os neurônios possam manter a atividade normal


postado em 22/03/2018 11:28 / atualizado em 22/03/2018 11:35

Estudo feito na USP descobriu que a
Estudo feito na USP descobriu que a "proteína da longevidade", chamada de klotho, é responsável por manter a atividade normal dos neurônios no cérebro (foto: Pixabay)
Na mitologia grega, as moiras eram três mulheres responsáveis por fabricar, tecer e cortar o fio da vida de homens e deuses. Uma delas, de nome Klotho, era a que tecia o fio da vida. Em 1997, pesquisadores japoneses descobriram uma proteína associada à regulação do envelhecimento e da longevidade. Com isso, ela foi batizada de klotho. Desde então, a proteína passou a ser estudada por diversos grupos de pesquisa do mundo. Um trabalho recente produzido na USP traz descobertas inéditas que mostram que a klotho estimula a produção de lactato (um dos alimentos dos neurônios), além de ser importante nos processos de sinalização de insulina e exercer uma ação antioxidante e anti-inflamatória no sistema nervoso central.

O pesquisador Caio  Mazucanti explica que no DNA humano existe o gene da klotho. É ele quem produz a proteína, principalmente nos rins e no cérebro, e a joga na corrente sanguínea. No cérebro, isso ocorre nos neurônios. Porém, com o processo de envelhecimento, a presença dela diminui no corpo, podendo ser acelerada por doenças neurodegenerativas como Alzheimer e Parkinson.

"Vários estudos científicos já comprovaram que algumas pessoas têm uma variação genética que leva à produção de uma proteína klotho ligeiramente diferente. Essas pessoas parecem ser mais protegidas contra Alzheimer, Parkinson e doenças cardiovasculares, entre outras, além de terem melhores resultados em testes de QI, maior cognição e maior volume do córtex cerebral. É um efeito benéfico bastante generalizado. Isso reflete a ação dessa proteína pois ela consegue agir em diversos sistemas no organismo e tem um espectro de ação bastante amplo", explica o cientista da USP.

Mazucanti focou seus estudos especificamente no metabolismo energético do sistema nervoso central (SNC), e em como a "proteína da longevidade" age na dinâmica metabólica do cérebro. "É onde ocorre uma das maiores atividades da klotho, além de haver uma carência de informações sobre os mecanismos de ação da proteína neste órgão", comenta.

Uma das descobertas inéditas do estudo brasileiro está na relação entre a klotho, as duas principais células cerebrais (astrócitos e neurônios) e o lactato. O pesquisador explica que os neurônios se alimentam de glicose e de lactato e são dependentes dos astrócitos em níveis muito profundos. "São os astrócitos que provém a defesa antioxidante e o substrato energético [alimento] para os neurônios. Caso contrário, o neurônio não apenas morre, como ocorrem prejuízos na formação de novas memórias, além de haver uma piora no desempenho em testes de aprendizagem e memória", explica Caio  Mazucanti.

Para o pesquisador, a descoberta adiciona uma nova informação sobre as doenças neurodegenerativas e o envelhecimento. "Uma das explicações possíveis para a perda cognitiva seria a deficiência na comunicação entre os neurônios e os astrócitos, onde a klotho atuaria como mensageiro, fazendo um link entre essas duas células. Uma das hipóteses é que esse acoplamento entre neurônios e astrócitos esteja danificado, pois não existe mais esse 'mensageiro', de modo que o astrócito está impedindo de suprir o que o neurônio precisa", sugere o cientista.

Ação antioxidante e anti-inflamatória

Mazucanti diz que uma das características mais comuns do envelhecimento e das doenças neurodegenerativa é o acumulo de danos oxidativos. Ele lembra que nós, de certa forma, "enferrujamos": respiramos oxigênio e esse processo acaba dando origem às espécies reativas de oxigênio, conhecidas como radicais livres. "Muita gente acredita que o envelhecimento é o acúmulo de todos os danos oxidativos que naturalmente ocorrem durante a nossa vida, tornando-se algo permanente e cumulativo. Nossas células têm naturalmente defesas contra esses danos. Mas, por algum motivo ainda não descoberto, essas células perdem a capacidade de reparar esse dano oxidativo, principalmente no envelhecimento e nas doenças degenerativas", comenta.

O pesquisador também constatou um papel anti-inflamatório da klotho. "O processo inflamatório das células está muito associado com o envelhecimento e as doenças neurodegenerativas. E essa proteína impede a resposta inflamatória nos astrócitos".

(com Jornal da USP)

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