Revista Encontro

Cidade

Entenda porque surgem tantos buracos nas ruas e avenidas de Belo Horizonte

Especialistas esclarecem se nossa pavimentação é ruim ou se é culpa da chuva

Rafael Campos
É só chover que buracos e rachaduras começam, como um 'passe de mágica', a aparecer pelas ruas e avenidas de Belo Horizonte.
Esses problemas representam verdadeiras armadilhas que podem causar transtornos nos veículos e até acidentes graves. Mas, por que o asfalto da cidade parece ser tão vulnerável? O professor Ronderson Queiroz Hilário, do departamento de Engenharia de Transporte e Geotecnia da UFMG, dá algumas pistas.

O dimensionamento do asfalto pode não mais servir para o número de veículos atual da cidade, afirma o engenheiro. BH já registra mais de 1,8 milhão de automóveis. "Nossos modelos de dimensionamento são da década de 1980", comenta o especialista, que também é um dos pesquisadores do laboratório de Pavimentação Asfáltica da UFMG. "E durante as chuvas, o solo tende a ser menos resistente", completa.

As tradicionais operações "tapa buraco", de acordo com o professor, não são eficazes se a pavimentação de determinada via não for condizente com a carga de tráfego. Do contrário, a intervenção, se feita de forma correta, tende a ser mais duradoura. "O correto é recortar o asfalto, fazendo uma espécie de quadrado em volta desse buraco e não apenas cobri-lo com asfalto", explica Ronderson Hilário.
Esta medida é aconselhada, já que o aparecimento de buracos "é sinal de que as áreas no entorno da cratera já entraram em colapso".

Quando se fala em pavimentação asfáltica, a Alemanha sempre é lembrada como um dos lugares que oferecem pistas "tapetes", as chamadas 'autobahns'. Conforme o especialista, no país europeu a pavimentação é pensada sob critérios ligados ao conceito de resiliência.

Para Clemenceau Chiabi Saliba Jr., presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG), é importante pensar a pavimentação não apenas a partir da chamada "capa asfáltica". "Há ainda uma série de camadas, além do sistema de drenagem. Se o problema tornou-se visível, com o surgimento de buracos, por exemplo, é porque outras partes, não visíveis, do pavimento, já foram prejudicadas", diz o presidente do Ibape. De acordo com ele, as principais causas de deterioração do asfalto têm relação com o sistema de drenagem e com o envelhecimento do pavimento.
Como mostra o professor da UFMG, não adianta apenas tapar o buraco com um pouco de asfalto, já que a área comprometida pela infiltração da chuva pode ser maior - Foto: João Paulo Martins/Encontro
Por sua vez, Adriano Morato, diretor de obras da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), esclarece que "o dimensionamento do asfalto é calculado de acordo com o tráfego do local e é feito corretamente". Ele afirma ainda que o aparecimento de buracos nas vias se dá pelas chuvas intensas dos últimos quatro meses, bem acima da média histórica.

Outro fator que contribuiria para os recorrentes problemas, de acordo com Morato, seria o fim da vida útil do asfalto em algumas vias, "que já deveriam ter sido recapeadas, mas, por contingência de recursos, não foram feitas na gestão passada", diz.

A Sudecap informa ainda que, este ano, serão investidos R$ 40 milhões em recapeamento. Após as chuvas, a rua Condor, no bairro Nova Cintra, e avenida professor Mário Werneck, no Buritis, serão alguns dos lugares que devem começar a receber novo asfalto. .