A pesquisa avaliou 6.174 crianças nascidas em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e 4.220 em São Luís, capital do Maranhão, de janeiro a dezembro de 2010. Desses, 3,5% dos recém-nascidos de São Luís e 3,2% de Ribeirão Preto nasceram com microcefalia.
Os pesquisadores lembram que não é apenas a infecção congênita pelo vírus zika que causa a anomalia. Outros fatores que envolvem aspectos sociais, reprodutivos, demográficos e de estilo de vida também influenciam na má formação da criança.
Nas duas cidades, por exemplo, os pesquisadores constataram, em 2010, que estão associados à anomalia fatores sociais como baixa escolaridade materna, mãe que vive sem companheiro ou união consensual, tabagismo materno; e fatores reprodutivos, como parto vaginal e restrição do crescimento intrauterino.
Em São Luís, nascer em hospitais públicos e consumo de álcool durante a gravidez também foram associados à anomalia. Ainda de acordo com a pesquisa, tabagismo materno e restrição do crescimento intrauterino também estão relacionados com a microcefalia grave.
Segundo a pesqusiadora Heloisa Bettiol, uma das autoras do estudo e professora da USP, o problema se caracteriza pelo tamanho menor da cabeça quando comparado a outras crianças na mesma fase de desenvolvimento.
"Comparada a Ribeirão Preto, em 2010, São Luís também apresentou mais casos de microcefalia severa grave, com 0,7% de prevalência, enquanto em Ribeirão Preto esse índice foi de 0,5%", comenta o professor Marco Antonio Barbieri, também da USP e co-autor do estudo. A taxa esperada dessa anomalia é de 0,14%; portanto, para os pesquisadores, o achado dado foi maior que o esperado para as duas cidades, o que caracteriza que a endemia já ocorria antes da epidemia do vírus zika em 2015.
No Brasil, segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do DataSUS, a prevalência da microcefalia era de 0,57 nascidos vivos em 2010 e passou para 5,5 em 2015. Entretanto, o Estudo Colaborativo Latino-Americano de Malformações Congênitas estima que 66% dos casos de microcefalia graves não são notificados.
(com Jornal da USP)