
Os resultados da pesquisa, que recebeu o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foram publicados na revista Scientific Reports no início deste ano.
"Observamos que a música melhorou a frequência cardíaca e os efeitos de anti-hipertensivos no período de até uma hora após a medicação", comenta Vitor Engrácia Valenti, professor da Unesp e coordenador do estudo, em entrevista para a Agência Fapesp.
Há algum tempo os pesquisadores começaram a estudar o efeito da música sobre o coração em situações de estresse. Uma das constatações que fizeram é que principalmente as composições eruditas possuem a capacidade de diminuir a frequência cardíaca. "Constatamos que a música erudita ativa o sistema nervoso parassimpático [responsável por acalmar o organismo, desacelerando os batimentos cardíacos] e reduz a atividade do sistema simpático [que acelerar os batimentos]", explica o cientista.
Com base nessa constatação, eles decidiram avaliar o efeito da estimulação musical por meio de um método chamado de "variabilidade da frequência cardíaca" durante situações cotidianas, como no tratamento da hipertensão, em que a terapia musical tem sido estudada como uma intervenção complementar. "Já existiam estudos relacionados aos efeitos da musicoterapia sobre a pressão arterial em pacientes hipertensos, que apontaram que ela teve efeitos positivos significativos. Mas, ainda não estava claro se a música pode influenciar o efeito da medicação sobre a variabilidade da frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica", afirma Valenti.
Os pesquisadores realizaram um experimento em que avaliaram, durante dois dias aleatórios e com um intervalo de 48 horas, os efeitos do estímulo auditivo musical associado à medicação contra a hipertensão nessas variáveis cardiovasculares em 37 pacientes com pressão arterial controlada, que realizaram tratamento por um período de seis meses a um ano.
As análises dos dados indicaram que a frequência cardíaca dos pacientes diminuiu 60 minutos após serem medicados e ouvirem música. Já quando tomaram o anti-hipertensivo de rotina e não ouviram qualquer estímulo musical na sequência, a frequência cardíaca não sofreu alteração tão intensa. As respostas dos medicamentos também foram mais fortes sobre a pressão arterial dos voluntários quando ouviram música após serem medicados, em termos de desaceleração dos batimentos cardíacos e diminuição da pressão arterial, aponta o estudo.
"Detectamos que a medicação anti-hipertensiva apresentou efeitos mais intensos sobre a frequência cardíaca dos pacientes quando ouviram música", diz Vitor Valenti.
Uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores é que, ao ativar o sistema parassimpático, a música causa um aumento na atividade gastrointestinal dos pacientes hipertensos, acelerando a absorção de medicamentos anti-hipertensivos e intensificando os efeitos na frequência cardíaca.
(com Agência Fapesp)