O radiologista Luciano Chala lembra que é necessário separar homens e mulheres trans para analisar a prevalência desse tipo de câncer. "Mulheres transexuais passam por terapia hormonal para obtenção da mama com aspecto feminino. O uso de hormônio instiga um questionamento sobre eventual aumento do risco de câncer, pois isso conduz ao desenvolvimento de um tecido mamário com ductos e ácinos idênticos ao da mama biologicamente feminina", comenta o especialista.
Estudo publicado no periódico científico The Journal of Sexual Medicine acompanhou 2.307 mulheres trans que receberam terapia hormonal e concluiu que as incidências de carcinoma de mama são comparáveis aos identificados no público masculino. O tratamento hormonal em indivíduos transexuais não está associado a um aumento considerável do risco de desenvolvimento tumor de mama maligno. "A ocorrência foi de 4,1 a cada 100 mil casos, superior à incidência em homens cisgênero e muito distante da reportada em mulheres ", afirma o médico.
Ainda segundo Luciano, não há orientações consensuais a respeito do rastreamento do câncer de mama em mulheres trans.
Já em relação aos homens transexuais, como o tórax com aspecto masculino é obtido por meio da mastectomia (retirada da mama), há a redução do risco de câncer. Porém, não anula a possibilidade de desenvolver a doença, uma vez que há pequena quantidade de tecido residual embaixo da pele. Neste caso, não é necessário realizar rastreamento com métodos de imagem, apesar de que o autoexame periódico, bem como atenção aos sintomas como nódulos e secreção sanguinolenta, devem ser mantidos.
De acordo com o Inca, 1% dos cânceres de mama previstos para 2018 serão descobertos em homens. Por ter menor incidência no público masculino, não há políticas para rastreamento da doença nessa população. "A doença é rara e quando aparece, é palpável, pois a mama masculina é pequena", explica Luciano Chala.
A avaliação periódica é indicada apenas para subgrupos de risco, como pacientes com mutação no gene BRCA 2, com síndrome de Klinefelter (provoca queda dos pelos e aumento das mamas), ou com histórico pessoal desse tipo de câncer.
A falta de informação, contudo, é uma das principais barreiras para detecção da doença. "Como a maioria dos homens não sabe que pode ter câncer de mama, grande parte dos casos é diagnosticado tardiamente. Eles não procuram um especialista quando os primeiros sintomas surgem, ou seja, ao identificar o problema, muitas vezes, já está em estágio avançado e com prognóstico comprometido", comenta o especialista..