Os desenhos criados pelas próprias presas viram estampas nos tecidos que são transformados em peças exclusivas por meio de uma confecção instalada dentro da penitenciária.
A união de dois temas da área de ressocialização – ensino e trabalho – é vista como essencial por Maristela Esmerio Andrade, diretora de Atendimento da unidade prisional. "A empresa [confecção] é muito parceira, sempre visualizou o potencial das presas, não apenas como funcionárias, mas como humanas. É muito bom a gente poder trabalhar integrado, de forma a libertar não só com a arte trabalhada em sala de aula, mas tecendo a própria liberdade nas peças produzidas. É catarse, liberação do 'eu' entre telas e estamparia", afirma Maristela.
A grife participou do concurso Ready To Go, do Minas Trend, que valoriza os novos talentos da moda mineira. Pela segunda vez, a Libertees foi destaque e, este ano, conquistou o terceiro lugar. A seleção dos finalistas é feita por jornalistas, compradores e influenciadores que participam do evento.
Coleção Inspiração
Trinta e seis peças compõem a coleção Inspiração. São vestidos, blusas, t-shirts, saias, shorts, calças e macacões com muitas cores e listras. Todas as estampas vieram das aulas de artes do complexo prisional. Segundo as donas da marca, Marcella Mafra e Daniela Queiroga, o nome do acervo vem do trabalho das presas.
"Cada vez mais a gente se inspira com o que fazemos. As presas tiveram uma evolução muito grande em tudo. O astral delas é algo que contagia, estão sempre dispostas a mudar, de querer algo novo e legal. Elas são muito dedicadas", comenta Marcella.
"Elas aceitam todos os desafios. Se alguma delas não sabe fazer tal coisa, ela se dispõe imediatamente a aprender e pega muito rápido. O nome da coleção traduz o que essas meninas nos trazem. Elas nos inspiram diariamente, por essas estampas, pela história de cada uma. Nós queremos espalhar essa inspiração, transferir isso de alguma forma para as pessoas através das nossas peças de roupa", diz Daniela.
Libertees
O trabalho no complexo penitenciário feminino Estevão Pinto começou em 2013, quando Marcella Mafra abriu uma confecção no local. Inicialmente a produção era voltada para outras empresas, atividade que ainda se mantêm. Mas, a emrpesária possuía uma inquietação, uma vontade de fazer algo diferente.
"Eu queria ter uma marca, mas não queria uma coisa de qualquer jeito, queria algo com propósito, que tivesse algum sentido e se relacionasse com a unidade prisional. E ai teve essa exposição dos trabalhos da escola da penitenciária, que eu vi no hall e aí isso me deu uma ideia, que acabou virando a Libertees", conta Marcella.
Empolgada com a nova descoberta, ela procurou uma antiga amiga, a psicopedagoga Daniela Queiroga, que de imediato topou o projeto. "Eu me apaixonei pela ideia, estava sem trabalhar a um tempo e buscava algo que me brilhasse os olhos. Quando eu soube do projeto abracei de imediato e comecei como representante da marca. Então participamos de uma ação de uma impulsionadora de produtores, e a partir daí a Libertees foi ganhando corpo, conceito, cara e alma, que é o nosso grande diferencial", diz Queiroga.
A grife já vendeu roupas para lojas no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e pode ser encontradas em alguns pontos de Belo Horizonte. A Libertees foi selecionada e está participando de um projeto da Federação de Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), o Apex-Brasil, que é uma consultoria de exportações. A intenção é que as peças produzidas no complexo ganhe o mundo.
(com Agência Minas)