Segundo o coordenador da pesquisa, professor Rodolfo Giunchetti, esse tipo de imunizante representa uma vantagem tecnológica para o Brasil, que, por ser tropical, é muito suscetível a novas arboviroses. Isso porque a vacina combate o mosquito, ação considerada mais eficaz do que imunizar toda a população contra cada uma das doenças que ele transmite. "Além disso, essa vacina pode ser associada à imunização contra algumas doenças, como dengue", comenta o cientista.
As formulações criadas no ICB contêm proteínas importantes para a vida do inseto e geram, no indivíduo vacinado, a produção de anticorpos contra essas proteínas. Ao se alimentar do sangue com esses anticorpos, o Aedes aegypti sofre alterações em sua fisiologia, que podem levá-lo à morte ou, no mínimo, provocar sérios danos à sua cadeia reprodutiva.
Vale ressaltar que o indivíduo que receber esse imunizante não estará protegido contra as arboviroses, "mas o componente vai ajudar a eliminar o mosquito, o que, em última instância, provoca o fim dessas doenças, por falta do principal elo de transmissão", observa Giunchetti.
O estudo conseguiu fazer com que um terço dos Aedes que picava animais imunizados acabaram morrendo imediatamente. Ao acompanhar o ciclo completo do inseto, a pesquisa constatou uma redução significativa no número de ovos e a baixa viabilidade das pupas, que se desenvolveram mal ou morreram. "Foi possível perceber uma redução de cerca de 60% no ciclo do Aedes aegypti", completa o professor da UFMG.
Rodolfo Giunchetti comenta que a vacina ganha maior importância diante dos relatos de resistência do mosquito a inseticidas tradicionais e à crescente dificuldade em combatê-lo. Ainda conforme o cientista, o inseto tem a capacidade de se alimentar de vários hospedeiros. "A fêmea pica em busca do sangue, necessário para o amadurecimento do ovário e a produção de ovos. Ela digere o sangue, coloca os ovos e volta para se alimentar em outra pessoa ou na mesma", diz. O teste realizado em camundongos mostra que, após receberem a vacina, as cobaias produziram anticorpos capazes de induzir alterações no organismo do inseto, resultando em desequilíbrio fisiológico de alto impacto.
"Já temos a prova de conceito e conhecemos os possíveis alvos, o que possibilita a produção da vacina em escala", observa Giunchetti. As próximas etapas para chegar a uma formulação comercial abrangem ensaio pré-clínico em primatas não humanos – os testes devem demonstrar que a vacina é segura, não induz efeitos colaterais significativos e provoca alterações no inseto – e, em seguida, realizar os mesmos estudos em pessoas, para confirmar segurança, imunogenicidade e eficácia.
(com Boletim da UFMG)