Segundo ela, o objetivo do estudo foi identificar a possibilidade de que a variação nos microRNAs (pequenos RNAs conservados ao longo da evolução e que regulam a expressão do DNA) pode estar envolvida na suscetibilidade de uma pessoa apresentar cárie dentária, pois há quem sofra com a doença mesmo tendo uma boa higiene bucal. "É possível que microRNAs funcionem como um biomarcador para a cárie, de acordo com o perfil genético do paciente", diz Kuchler.
A pesquisa, publicada nas revistas científicas Caries Research e Archives of Oral Biology, é uma sequência de outro estudo que já havia avaliado um possível biomarcador genético para a cárie dentária em adultos dos Estados Unidos e crianças da Letônia. "Queremos estabelecer biomarcadores para explicar o aparecimento de cárie e acreditamos também que vários fatores podem influenciar nessa doença, desde o ambiente em que se vive até variações genéticas, como a etnia, por exemplo", conta a pesquisadora. Para trabalhar na comprovação da tese, participaram da pesquisa 222 crianças de Ribeirão Preto (SP), 678 do Rio de Janeiro (RJ) e 90 de Manaus (AM), que tiveram saliva coletada como fonte de DNA.
Os resultados preliminares do estudo nessas três populações apresentaram diferenças genéticas entre as crianças com propensão à cárie, mostrando que o ambiente pode influenciar na doença, assim como a genética. Por isso, para alcançar uma informação mais relevante possível, a pesquisadora deseja ampliar o estudo para toda a população nacional. "Com verba, já iremos avaliar 500 crianças de Curitiba e 300 de Alfenas, em Minas Gerais.
A doença
A cárie é um problema bucal multifatorial complexo e não tratá-lo pode causar dor extrema, infecções e até mesmo a perda de dentes. Segundo dados publicados em 2017, no Journal of Dental Research, pelo professor Wagner Marcenes, da Universidade Queen Mary, do Reino Unido, cerca de 2,4 bilhões de pessoas no mundo sofrem com a doença.
As mudanças demográficas, o crescimento populacional e o envelhecimento pioraram as condições bucais dos seres humanos drasticamente entre 1990 e 2015, segundo o professor Marcenes. Com o estudo, o pesquisador concluiu que a saúde bucal não melhorou no período de 25 anos estudado, pois a quantidade de pessoas com condições bucais não tratadas aumentou de 2,5 bilhões em 1990 para 3,5 bilhões em 2015. Para ele, essas doenças continuam sendo um grande desafio global de saúde pública.
O que deixou o pesquisador impressionado durante o estudo foi o nível de negligência dos pacientes, já que existem formas simples de tratamento e prevenção da doença. Outro dado que preocupou o pesquisador da universidade britânica foi o de que a cárie não tratada atinge não somente as crianças mas também a população adulta.
(com Jornal da USP).