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Degelo da Antártida está muito acelerado, alertam cientistas

O continente está perdendo três vezes mais gelo do que há 20 anos


postado em 14/06/2018 14:54 / atualizado em 14/06/2018 14:58

(foto: Pixabay)
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A Antártida, conhecida como o continente gelado, está perdendo sua camada de gelo cada vez mais rápido. Vários estudos publicados na renomada revista científica Nature revelam que, entre 2012 e 2017, a Antártida perdeu 219 bilhões de toneladas de gelo por ano, o que representa um degelo três vezes mais rápido do que o registrado nas duas décadas anteriores, quando o fenômeno ocorria de forma estável (76 bilhões de toneladas anuais). Os dados foram obtidos pelas observações de 24 satélites.

O derretimento não apenas desnuda a Antártida de sua capa gelada, mas faz aumentar o nível do mar, uma situação que coloca em risco comunidades costeiras, além dos ecossistemas continental e oceânico. Enquanto de 1992 a 2012 a perda de gelo contribuiu para elevação média anual de 0,2 mm no nível dos oceanos, entre 2012 e 2017 ela resultou num volume de água 0,6 mm maior por ano. Isso significa que, sozinho, o degelo tem sido responsável por cerca de 20% do aumento do nível do mar anualmente.
(foto: Pixabay)
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Os modelos climáticos estimam que, se esse ritmo for mantido, até o fim do século, cidades inteiras poderão ser engolidas pelos oceanos. O potencial para isso é grande: a Antártida tem água congelada suficiente para elevar o nível do mar em 58 m. "Mesmo pequenas alterações no nível do mar vão afetar a vida de cidades costeiras", alerta Andrew Shepherd, pesquisador da Universidade de Leeds, na Inglaterra, principal autor de um dos artigos publicados na Nature. De acordo com o cientista, o trabalho, que contou com a participação de 84 especialistas, é o retrato mais completo da Antártida, e os resultados "têm de ser um motivo de preocupação para governantes em quem confiamos para proteger nossas cidades e comunidades costeiras".

Pontos críticos

Para chegar a essas conclusões, os cientistas combinaram dados obtidos desde a década de 1990 por 24 diferentes satélites, incluindo os equipamentos administrados pela Agência Espacial Norte-Americana (Nasa). A avaliação das imagens indica que o aumento acelerado do derretimento no continente é particularmente forte na porção ocidental, que passou de uma perda de 53 bilhões de toneladas por ano há duas décadas para 159 bilhões de toneladas anuais desde 2012.
(foto: Pixabay)
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A maior parte do fenômeno localiza-se nos glaciares de Pine Island e de Thwaites, que estão retraindo a um ritmo jamais detectado, devido ao derretimento do oceano Ártico. Já na porção mais setentrional, o colapso da cobertura gelada da Península Antártida está levando a uma perda de 25 bilhões de toneladas de gelo por ano, desde o início da década de 2000. Apenas o leste do continente permanece estável nos últimos 25 anos.

"As medições coletadas por satélites ao longo dos anos documentaram alterações glaciares por toda a Antártida em um nível incrivelmente preciso. Agora, temos uma compreensão muito detalhada sobre as rápidas mudanças no fluxo de gelo que estão acontecendo no continente e como isso vai aumentar o nível do mar em todo o mundo", observa Isabella Velicogna, professora da Universidade da Califórnia, em Irvine, nos EUA, e pesquisadora do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. "Os dados vistos do alto nos mostram não apenas que o problema existe, mas que está aumentando em severidade ano após ano", completa.

Vale dizer que mais de 90% do gelo presenta nesse continente está na parte leste. Ainda asssim, mesmo tendo registro de formação de gelo nessa zona nos últimos anos, a produção não chega a compensar as perdas gerais. Cercada pelo oceano Antártico, a Antártida responde por 90% do gelo terrestre e contém a maior reserva de água doce do planeta.

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