As imagens, que estão revoltando alguns e servindo de base para memes (piadas visuais), mostram adolescentes nas ruas dizendo a marca e o valor de roupas, tênis e acessórios, todos caríssimos e de marcas famosas, como a grife italiana Gucci, a fabricante suíça de relógios Tag Heuer e as empresas americanas Supreme e Nike. Ao final da "apresentação", o valor é somado, mostrando assim o preço total do outfit da pessoa – que, simplificando, diz respeito ao famoso look, ou seja, ao visual.
A seguir, o primeiro vídeo de "outfit" que gerou a polêmica na internet brasileira:
A ideia do canal brasileiro foi inspirada nos vídeos publicados pela conta The Unknown Vlogs, do Reino Unido, que compartilha imagens sobre comportamento e cultura dos jovens da Europa. Eles possuem uma série chamada "How Much is Your Outfit" (quanto custa seu look, em tradução livre) cujo conteúdo é o mesmo mostrado pelo Hyped Content Brasil, porém, com jovens europeus, ao invés de brasileiros.
Assim que começaram a se espalhar, os vídeos geraram um grande debate entre os internautas sobre o tipo de comportamento mostrado nas gravações. Afinal, o que leva uma pessoa a se satisfazer apenas por "ostentar" o preço gasto com roupas e acessórios? Seria algum tipo de distúrbio? Isso pode gerar consequência na vida adulta? Qual o papel dos pais nesse caso?
Busca pelo destaque
Segundo o psicólogo Gilberto Diniz, esse tipo de comportamento é questionável. Ainda assim, os seres humanos, por instinto, sempre buscam meios de se destacar dentro dos grupos sociais, e a ostentação é um exemplo disso. "Vivemos na era da 'coisificação do ser', na qual a pessoa possui a falsa ilusão de ser melhor por possuir determinada roupa, carro ou por morar em certos bairros. Ou seja, você é medido pelas coisas que possui e não por suas aptidões", critica o especialista.
Para ele, o comportamento exibido nos vídeos de outfit "escraviza" a mente humana porque, na prática, sempre existirá alguém que possui mais do que o outro. Isso faz com que a pessoa fique permanentemente insatisfeita, inclusive quando se trata de relacionamentos.
Abaixo, confira o vídeo mais comentado sobre a ostentação de roupas e acessórios:
Influências
O psicólogo destaca ainda que esse tipo de atitude é influenciada pela mídia, pela cultura, por amigos da escola (no caso de crianças e adolescentes), sendo o capitalismo um dos principais agentes influenciadores. "Bata observar o número de brasileiros que viajam para os Estados Unidos, e que cresce cada vez mais devido à busca desenfreada pelo 'ter'. O brasileiro viaja milhares de quilômetros para comprar em outlets de Miami e Orlando [cidades da Flórida]", comenta Gilberto Diniz.
O problema é que os jovens estão mais sujeitos ao comportamento mostrado nos vídeos "Quanto Custa o Outfit", na opinião do especialista. "Eles são os maiores alvos da mídia e do capitalismo porque a maioria das pessoas nessa faixa etária ainda está em processo de formação de personalidade, uma fase em que querem fazer parte de grupos sociais, chamar a atenção e conquistar espaço", esclarece.
Conforme Gilberto Diniz, os jovens são "presas fáceis" das marcas de luxo, que vendem a ideia de de que possuir e consumir determinados produtos os transformará em pessoas "melhores", mais "bem sucedidas".
Papel dos pais
A maioria das pessoas que aparecem nos vídeos ostentando roupas de grife é formada por jovens, o que passa a impressão de que ainda dependem do dinheiro dos pais e que, até mesmo, são incentivados por eles a ter esse tipo de comportamento. O especialista concorda: "Não podemos esquecer que os pais também são consumidores e que os valores que os filhos aprendem, muitas vezes, são os mesmos de dentro de casa".
O psicólogo lembra que muitos pais chegam em casa cansados e não dão atenção suficiente para os filhos, ainda mais nos dias atuais, em que as redes sociais representam uma "forte distração". Assim, pais e filhos não interagem e os responsáveis acabam compensando a "ausência" com presentes. "Os jovens são levados a crer que esse comportamento é correto e passam a entendê-lo como verdadeiro. O problema é que, deste modo, deveres e limites não são impostos e os valores humanos sólidos e fundamentais são deixados de lado", alerta Gilberto Diniz.