"Embora tenha sido feito na Europa, este estudo é bastante relevante para a nossa realidade. Afinal, a hipertensão já atinge 35% da população brasileira, além de ser responsável por desencadear até 80% dos casos de derrame cerebral e 60% dos casos de ataque cardíaco registrados no país", comenta o cardiologista Abrão Cury, do Hospital do Coração de São Paulo (SP).
O estudo europeu analisou dados de 8.639 pessoas avaliadas pela pesquisa internacional Whitehall II – que, por sua vez, acompanhou 10 mil funcionários públicos britânicos desde 1985. "A investigação verificou que pessoas com 50 anos de idade com pressão arterial sistólica de 130 mmHg, entre a faixa de pressão arterial ideal e aquela considerada alta , ou acima, tiveram um risco 45% maior de desenvolver demência", afirma o médico brasileiro.
Entre os participantes da pesquisa que, de fato, desenvolveram o problema, posteriormente, a idade média de registro dos primeiros sintomas de demência foi de 75 anos. Portanto, segundo o artigo científico, a ligação entre o problema neurológico e a hipertensão estaria no fato de que, com o aumento da pressão arterial, uma sucessão de "micro-derrames" poderia ocorrer, ao longo dos anos, de maneira silenciosa e imperceptível. "De acordo com estes pesquisadores, o acúmulo desses eventos é que talvez houvesse provocado a perda cognitiva registrada nos pacientes investigados, assim que chegaram à terceira idade", afirma Abrão Cury.
Além de confirmar os efeitos prejudiciais da pressão alta na meia-idade, em relação ao risco de demência, como sugerem pesquisas anteriores, o estudo ainda indica que, aos 50 anos, o risco de se ter o problema neurológico pode ser observado de maneira significativa, inclusive, em pessoas que aumentaram os níveis de pressão arterial sistólica abaixo do limiar comumente utilizado para tratar a hipertensão.