Amplamente aplicado pela indústria farmacêutica, na agricultura e na medicina, o infravermelho é alvo de estudos de um grupo de cientistas do IOC/Fiocruz, da Austrália e dos Estados Unidos. O objetivo, segundo a pesquisa, que foi publicada na revista científica Science Advances, era comprovar a eficácia do método para uso em insetos, em especial, na detecção de vírus como os da dengue, da zika e da chikungunya.
A primeira etapa do estudo exigiu a calibração do equipamento de infravermelho para que fosse capaz de distinguir mosquitos Aedes infectados de outros insetos sem o vírus. Para isso, foram utilizadas 275 fêmeas criadas em laboratório. Divididas em dois grupos, metade foi alimentada com sangue contaminado com zika – proveniente da linhagem circulante no país. A outra metade das fêmeas, que funcionou como grupo controle, recebeu sangue não infectado.
Para realizar os testes, os pesquisadores esperaram dois intervalos de tempo: quatro e sete dias após a alimentação com sangue. A tecnologia de infravermelho foi usada para captar a intensidade de radiação da região do tórax e da cabeça dos mosquitos.
Custo-benefício
Em comparação ao método tradicional, considerado de alto custo, demorado e invasivo, a nova técnica apresenta características proporcionalmente opostas. Considerando o custo dos reagentes e a remuneração paga a um profissional que precise analisar, por exemplo, 100 amostras, a técnica de infravermelho – que dispensa o uso de reagentes – apresenta um custo 116 vezes menor. Além disso, o novo método é capaz de processar o mesmo número de exemplares em apenas 50 minutos, contra 900 minutos (15 horas) do método tradicional: isso o torna 18 vezes mais rápido.
"Toda a relação custo-benefício da nova técnica frente à tradicional se torna ainda mais expressiva quando levamos em conta que, devido à burocracia para a compra e recebimento de reagentes importados, esses itens muitas vezes demoram a chegar, atrasando a capacidade de resposta de um laboratório", comenta a pesquisadora Lilha Maria Barbosa dos Santos, também do IOC/Fiocruz.
Antes da implantação da técnica na rotina de análises, os cientistas precisarão incluir testes em mosquitos Aedes aegypti coletados na natureza já que, até o momento, foram realizados testes em condições artificiais, com a infecção do mosquito provocada em laboratório. A previsão é de que a técnica também seja avaliada para outros vírus, como dengue e chikungunya, assim como para a detecção do parasito causador da malária.
As mudanças químicas que influenciam as diferenças observadas em insetos infectados e não infectados é outro ponto a ser compreendido. "Com essa tecnologia, o IOC e outros institutos de ciência e saúde serão capazes de responder de forma mais acelerada, e com menor custo, a diversos problemas de saúde pública", diz Rafael Freitas.
(com Agência Fiocruz).