"É preciso diminuir a vergonha, enfrentar a desesperança de não conseguir parar de comer e procurar ajuda. Procurar ajuda pode ser difícil, mas o tratamento é eficaz, pois é fundamental desenvolver uma relação mais saudável com a comida e o peso, lembrar que o tratamento demora em fazer efeito e não se desesperar, pois a vida é uma maratona e não uma corrida de 100 m", comenta o psiquiatra Roberto Ratzke, da Unimed de Curitiba (PR).
O especialista explica que esses alimentos criados para serem atraentes são responsáveis por "viciar" os consumidores, dificultando ainda mais a manutenção das dietas e da caapcidade de resistir às "tentações". "Os alimentos podem viciar e uns mais que outros. Doces e gorduras dão um prazer imediato, uma sensação de bem estar, assim como álcool e drogas. A explicação para esse fenômeno é química: a gordura é composta por grandes moléculas de ácidos graxos, agentes que revelam o sabor. A relação entre o consumo de açúcar e o comportamento tem explicações biológicas. A glicose estimula a produção de serotonina e endorfina, neurotransmissores que regulam as sensações de bem-estar e prazer", explica o psiquiatra.
Portanto, a gordura e a glicose, conforme o especialista, acabam sendo uma "solução imediata" para problemas emocionais, especialmente transtorno de ansiedade e depressão.
"Dois terços que apresentam transtorno de compulsão alimentar são obesos. Nesse sentido, a compulsão pode ser entendida como uma necessidade interna, uma força, que leva a pessoa a repetir um determinado comportamento. Essas ações costumam vir seguidas de uma sensação de alívio ou bem-estar. Cientificamente, é definida como uma ingestão de grande quantidade de comida, maior do que a maioria das pessoas comeria, em um intervalo de tempo menor que duas horas. Porém, aliada à esta ingestão, vem o hábito de comer rápido e sozinho, até se sentir cheio e com vergonha da quantidade de comida que ingeriu. Outro aspecto é a sensação de culpa, desânimo e perda de controle sobre o que consome", afirma Roberto Ratzke.
O médico lembra que a compulsão alimentar costuma ser acompanhada dos transtornos de ansiedade e humor, podendo gerar depressão e transtorno bipolar. O problema ´psicológico também pode levar ao alcoolismo e ao uso de substâncias ilícitas como maconha e cocaína.
"Existem diversos fatores que podem interferir e até mesmo causar a compulsão alimentar, como os culturais, psicológicos e biológicos. Estes últimos, provocam uma desregulação de hormônios de estresse, como o cortisol, além dos hormônios ligados ao comportamento alimentar, como a grelina e leptina, neurotransmissores ligados ao humor e saciedade, como a serotonina, e ao sistema de recompensa cerebral, como a dopamina", esclarece o psiquiatra.
Portanto, na opinião do especialista, os obesos que possuem dificuldade na perda de peso e que sofrem com o transtorno de compulsão alimentar têm maior sofrimento, prejuízo funcional e menor qualidade de vida. Neste caso, o tratamento precisa ser feito com a ajuda de psiquiatras e psicólogos. "Existe um estigma à obesidade de maneira geral, uma vergonha de estar obeso, de apresentar compulsão alimentar, o que afasta as pessoas do tratamento", diz Ratzke..