A equipe, liderada pelo professor Bruno Lemos Batista, da UFABC, esteve em Bento Rodrigues logo após o desastre, e coletou amostras de solos, não atingidos pela lama, e de lama, vinda da barragem do Fundão. Logo nas primeiras análises comparativas, para medir níveis de metais na lama, verificaram que ela era mais pobre que o solo natural da região, tanto em elementos tóxicos quanto em essenciais.
Essas informações agora foram confirmadas por testes com o cultivo de arroz. Como se trata de um alimento básico para o consumo humano, conhecido pelo acúmulo de substâncias tóxicas, os pesquisadores decidiram plantar arroz nas amostras de lama.
Segundo o professor, o arroz pode acumular arsênio, chumbo, cádmio e mercúrio. Sabendo que o desastre espalhou cerca de 50 milhões de m³ de resíduos de mineração de ferro no ambiente, incluindo rios e áreas agrícolas, "essa foi uma forma de verificar se a lama poderia contaminar os grãos", argumenta Batista ao Jonral da USP.
Para os que acreditavam que a situação seria pior, as análises mostram que o arroz cultivado na lama residual da Samarco produziu grãos com baixos teores de arsênio, chumbo e cádmio. Mas se os componentes tóxicos são baixos, o mesmo vale para os nutrientes. O pesquisador afirma que o "excesso de lama durante o cultivo reduziu o crescimento das raízes e o rendimento dos grãos".
Considerando os parâmetros agronômicos do cultivo do arroz na lama de resíduos da mineradora, Bruno Batista conta que as alterações da planta estão relacionadas à deficiência de nutrientes e às propriedades físicas da lama. Para compensá-las, os pesquisadores adubaram o solo com matéria orgânica e utilizaram solo sedimentar, o que proporcionou melhores condições para o desenvolvimento das plantas.
Extrapolando os experimentos para a condição real do solo alagado de Bento Rodrigues, o especialista acredita que o fato de não terem encontrado metais potencialmente tóxicos nos grãos de arroz torna viáveis a agricultura e o reflorestamento na terra afetada pelo desastre, sendo necessária a correção do solo em relação a nutrientes e matéria orgânica. Mesmo assim, o professor lembra que cada planta tem necessidades diferentes.
(com Jornal da USP).