O pássaro-chave é justamente o uirapuru-de-garganta-preta (Thamnomanes ardesiacus), que tem em média 14 cm de comprimento e pesa cerca de 18 g. No estudo, os cientistas coletaram dados sobre o número de espécies que haviam em oito conjuntos mistos no sudeste do Peru e colocaram pulseiras coloridas nas aves. "Isso nos ajudou a identificar os membros do bando individualmente no caso de eles se mudarem para grupos vizinhos ou outras partes da floresta", explica Eliseo Parra, um dos autores da pesquisa, no artigo divulgado em maio na revista científica Ecology.
O passo seguinte da equipe americana foi capturar aves vigilantes dos oito rebanhos e separá-las do grupo durante três dias. Poucas horas depois da captura, os demais pássaros começaram a reagir.
Para Eduardo Santos, professor do departamento de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), o uirapuru-de-garganta-preta é considerada uma espécie sentinela por produzir vocalizações de alarme quando percebe a presença de aves de rapina predadoras. Os grupos de animais ocupam uma camada intermediária na floresta tropical, não tão perto do solo nem da cobertura das árvores. "Muitos artigos científicos sugerem que essa área é muito arriscada. Há mais oportunidades para o predador se esconder e ainda ter uma rápida rota de voo", diz o professor.
Outra constatação do estudo americano é de que, com a remoção da ave sentinela, a revoada de pássaros mudou de configuração. Animais trocaram de hábitat ou de bando. Dessa forma, mesmo não tendo muito impacto no ambiente físico, o uirapuru tem influência sobre comportamento de muitos outros pássaros. "Às vezes, até mais de 60 espécies o seguem e respondem aos seus alarmes. Nosso estudo ajuda a entender como complexas relações comportamentais e ecológicas entre as espécies podem impulsionar as comunidades de animais da floresta tropical", diz o pesquisador americano.
Segundo Eduardo Santos, o principal benefício para as espécies seguidoras da famosa ave amazônica é o aumento na taxa de forrageamento. "Ou seja, esses indivíduos se beneficiam por poder gastar menos tempo levantando a cabeça para ver se não há nenhum predador por perto e podem passar mais tempo com a cabeça no meio do folhiço ou das folhas procurando alimentos", diz Eliseo Parra..