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Ciência

Ecossistemas tropicais englobam maioria das plantas e dos animais da Terra

Ainda assim, muitas espécies estão ameaçadas de extinção

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Apesar das áreas verdes tropicais ocuparem 40% da Terra, elas abrigam mais de três quartos de todas as espécies de animais e plantas do planeta.
É o que mostra um estudo publicado na renomada revista científica Nature. O trabalho analisou quatro ecossistemas tropicais: florestas, savanas, sistemas aquáticos e recifes de corais e contou com a participação de pesquisadores brasileiros.

Os cientistas descobriram que os ecossistemas tropicais abrigam quase todos os corais de águas rasas e mais de 90% das espécies de aves do mundo. "Muitas delas não encontradas em nenhum outro lugar", comenta a pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, do Pará, coautora do estudo.

Não é novidade no meio científico que as áreas verdes tropicais abrigam uma vasta diversidade de plantas e animais e que são fundamentais para o bem-estar de milhões de pessoas em todo o mundo. O diferencial do estudo internacional é a quantificação da biodiversidade presente nessas regiões.

Segundo o professor Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, do Reino Unido, principal autor do artigo científico, o declínio da saúde dos ecossistemas tropicais afeta o bem-estar de milhões de pessoas cujas necessidades básicas dependem desses sistemas. "Por exemplo, estima-se que 70% da precipitação na bacia do Rio da Prata, de 3,2 milhões de km², entre o Uruguai e a Argentina, venha da evaporação na Amazônia, na região norte do Brasil", afirma o especialista.

Os números do estudo são impressionantes. O habitat de 10 grupos animais e plantas, entre aves, anfíbios, peixes de água doce, mamíferos terrestres, formigas e outros, foram analisados e os ecossistemas tropicais abrigam pelos menos 60% da quantidade de espécies de oito desses grupos. Isso significa que nos trópicos são encontrados 91% das espécies de aves do planeta; 83% dos anfíbios; 81% dos peixes de água doce; 79% das espécies de formigas; 77% dos mamíferos terrestres; 75% das espécies de plantas; e 66% das espécies de peixes marinhos.

"Para se ter uma ideia da importância dessas regiões, mesmo as aves que não são nativas dos trópicos, se abrigam nesses ecossistemas por longos períodos em função do movimento migratório de determinadas espécies", revela a pesquisadora Cecília Leal, do Museu Paraense Emilio Goeldi, e uma das autoras da pesquisa internacional.

Ameaça

O grupo de cientistas mostra que os ambientes hiperdiversos, como são chamados os ecossistemas tropicais, vêm passando por uma série de estresses tanto no âmbito local, como desmatamento, extrativismo predatório, quanto global, especialmente devido às mudanças climáticas.
A soma desses problemas locais e globais trouxe ameaças e risco de extinção de diversas espécies de animais.

Na região norte do Brasil, por exemplo, algumas espécies ameaçadas merecem destaque, segundo os especialistas. Há centenas de aves em risco de extinção, incluindo o papagaio ararajuba (Guaruba guarouba) e o gavião real (Harpia harpyja). A anta (Tapirus terrestris), o peixe-boi (Trichechus inunguis), a lontra (Ptenorua brasiliensis) e espécies de macaco, como uacari-branco (Cacajao calvus), todos com habitat natural na Amazônia, também estão em risco de extinção.

Para Joice Ferreira, da Embrapa, parte da solução para essa ameaça está no fortalecimento da capacidade das instituições de pesquisa nos trópicos. "Apesar de algumas exceções notáveis, como a Embrapa, a grande maioria dos dados e pesquisas está concentrada em países fora dos trópicos. Espera-se que quem vive no Brasil, e particularmente na Amazônia, tenha o domínio do conhecimento sobre a região, mas não é o que acontece na maioria das vezes", comenta a pesuqisadora brasileira.

(com assessoria de imprensa da Embrapa Amazônia Oriental).