Para a pediatra Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP, os números são alarmantes e revelam a necessidade de cuidados redobrados, especialmente com as crianças menores. "Mais da metade dos casos registrados referem-se a acidentes com crianças de 1 a 4 anos de idade. Elas são naturalmente muito curiosas e querem colocar tudo na boca, o que faz parte do desenvolvimento. Além disso, os medicamentos da linha pediátrica possuem embalagens coloridas e cheirosas, que estimulam os sentidos da criança", alerta a especialista
Os números mostram ainda que o risco de intoxicação é maior justamente entre as crianças de 1 a 4 anos. Segundo o levantamento da SBP, de todos os episódios de intoxicação ocorridos entre 1999 e 2016, mais de 130 mil acometeram crianças nessa faixa etária. O segundo grupo mais atingido vai de 14 a 19 anos (42.614 casos), seguido daqueles que possuem de 5 a 9 anos (32.668 registros) e de 10 a 14 anos (24.282).
Do ponto de vista de distribuição geográfica, dentre os estados que possuem centros de monitoramento, a incidência maior de casos desse tipo tem sido registrada, ao longo do período analisado, em São Paulo (88.582 ocorrências); no Rio Grande do Sul (47.342); no Espírito Santo (16.806); em Minas Gerais (13.315); e no Rio de Janeiro (11.602). Por outro lado, a mortalidade atribuída à intoxicação foi maior na Bahia (36 óbitos); em São Paulo (31); em Minas Gerais (24); no Rio de Janeiro (22); e no Rio Grande do Sul (18).
Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, os dados podem estar subestimados.
O próprio Sistema Nacional de Informações Toxico-farmacológicas reconhece em seu site que o número de casos de intoxicação e envenenamentos registrados nas estatísticas, envolvendo crianças e adolescentes, tem caído nos últimos anos em decorrência da diminuição da participação dos centros de informação neste monitoramento. Por conta, a equipe pede atenção na hora de comparar os indicadores entre os diferentes anos.
Automedicação
Carlos Augusto Mello da Silva, presidente do departamento científico de Toxicologia, da SBP, alerta para os riscos da automedicação com fórmulas aparentemente inofensivas, com frequência as mais acessíveis no ambiente doméstico. "As intoxicações medicamentosas em crianças, geralmente, são casos de emergência pediátrica. Remédios comuns, mesmo aqueles usados para controle da tosse e resfriados, são potencialmente perigosos. A criança pega o remédio dos pais ou o dela mesmo, que foi deixado ao alcance da mão, e toma em uma quantidade muito acima da prescrita pelo médico. Ela toma meio vidro ou então engole vários comprimidos coloridos da cartela. O pico no mundo todo é em crianças na faixa etária pré-escolar", afirma o pediatra.
Ainda segundo o especialista, os acidentes podem ser evitados quando pais e responsáveis tomam o devido cuidado. "Os adultos devem estabelecer algumas precauções para evitar que situações adversas se concretizem. A principal delas é sempre armazenar fármacos e produtos de limpeza sempre nos locais mais elevados, de preferência em armário com chave", recomenda Carlos Augusto Silva.
A automedicação é um problema mais comum entre os adultos. As evidências clínicas demonstram que crianças não costumam ser medicadas sem orientação médica.