"A morte súbita é um evento fatal, inesperado, que não foi causado por trauma, e que ocorreu em até uma hora após o início dos sintomas, numa pessoa que era aparentemente saudável", esclarece o cardiologista Francisco Carlos da Costa Darrieux, do Instituto do Coração (InCor) da USP, em entrevista para a Rádio USP. Ele lembra que isso é decorrente de uma doença inesperada ou não diagnosticada, sendo diversas as possíveis causas.
O médico esclarece que qualquer pessoa corre o risco de sofrer com esse problema. Porém, segundo ele, quem possui histórico familiar de morte súbita, especialmente em entes que faleceram antes dos 50 anos, deve fazer exames regularmente (os chamados "checkups"). "Especialmente cardiovascular, para avaliar se há uma doença que está 'escondida', ou seja, que ainda não se manifestou. Infelizmente, o primeiro sintoma pode ser a morte súbita durante uma atividade física, na pessoa que nunca fez uma avaliação médica anterior. Boa parte das vítimas tem o problema e não sabe", alerta o cardiologista.
Das 320 mil mortes súbitas que ocorrem todos os anos no país, segundo dados da OMS, a estimativa extraoficial (não contabilizada) é de que, desse total, de dois mil a três mil sejam de pessoas consideradas jovens.
Além das atividades físicas sem acompanhamento médico, o especialista cita a Síndrome de Brugada (arritmia nos ventrículos) como uma condição preexistente que pode levar ao óbito súbito. "É uma doença elétrica do coração. Você faz ecocardiograma e parece que está tudo bem, mas no eletrocardiograma é possível verificar o problema. Parte dos indivíduos com a síndrome, quando têm febre, por exemplo, podem sofrer uma piora brusca na arritmia cardíaca. Com isso, podem morrer subitamente. Neste caso, a culpa não é da febre em si, mas do problema inerente ao coração", diz o cardiologista do InCor.
Apesar de existirem medicamentos que podem controlar as doenças cardíacas que têm chances de causar morte súbita, o médico lembra que a prevenção ainda é o "melhor remédio". "O médico tem papel essencial para evitar a morte súbita. Existem inúmeros estudos que mostram que é possível modificar essa tendência natural a partir da intervenção médica. Na Itália, por exemplo, todo atleta que pretende seguir a carreira profissional precisa, obrigatoriamente, fazer eletrocardiograma e ecocardiograma. Se é percebida qualquer hipertrofia, mesmo no início, a pessoa é desqualificada para a atividade física pretendida. Depois de 30 anos, se percebeu uma queda dramática no número de mortes súbitas por cardiomiopatia hipertrófica na Itália", conta Francisco Darrieux.
(com Rádio USP).