
Agora, pesquisadores americanos podem ter descoberto os mecanismos que geram a "combinação perfeita" para o surgimento da alergia. Conforme a pesquisa, publicada no periódico científico Journal of Allergy e Clinical Immunology, são quatro fatores envolvidos: genética que altera a absorção da pele; uso recorrente de lenços umedecidos; exposição da pele a alérgenos presentes na poeira; e vestígios de alimentos em quem manipula os pequenos.
"Essa é uma receita para o desenvolvimento de alergia alimentar. É um grande avanço em nossa compreensão de como essa alergia começa desde cedo em nossa vida", comenta a professora Joan Cook-Mills, da Escola de Medicina Feinberg, da Universidade de Northwestern, em Illinois, nos Estados Unidos, principal autora do estudo, em comunicado enviado à imprensa.
Para chegar a essa lista, a equipe americana usou evidências clínicas sobre alergia alimentar em humanos. Há pesquisas mostrando que até 35% das crianças com alergias causadas por alimentos têm dermatite atópica e que a maioria dos casos ocorre devido a três mutações genéticas que reduzem a barreira de proteção da pele. Por isso, pesquisadores mudaram geneticamente cobaias para terem as mutações e serem expostas a alérgenos alimentares.
Segundo Cook-Mills, os bebês têm mais contato com elementos causadores de alergias na poeira de casa. Por terem a alimentação muito restrita nessa fase da vida, as alergias não estariam nos alimentos, mas sim, nos produtos que entram em contato com a pele. "Por exemplo, um irmão que come pão com manteiga de amendoim e beija o bebê no rosto, ou um pai preparando comida com amendoim e, logo em seguida, vai lidar com o bebê", diz a cientista.
No experimento, os camundongos tiveram a pele exposta, de três a quatro vezes, a alérgenos alimentares e poeira. Cada contato durou 40 minutos e foi repetido ao longo de duas semanas. As cobaias também foram alimentadas com ovo ou amendoim. Como resultado, apresentaram reações alérgicas no local da exposição da pele, no intestino e reação grave de anafilaxia, medida pela diminuição da temperatura corporal.
Sabão
Estudos sobre a limpeza da pele também inspiraram a equipe, principalmente em relação ao o efeito do sabão sobre os frágeis bebês. "A camada superior da pele é feita de lipídios [gorduras], e o sabão nos lenços umedecidos que geralmente são usados em recém-nascidos perturba essa barreira", explica Joan Cook-Mills. Os camundongos foram expostos ao lauril sulfato de sódio, um saponáceo presente em lenços de limpeza infantis, e apresentaram reações alérgicas. Segundo os cientistas, a substância testada também está presente em cosméticos e produtos de higiene pessoal, como removedores de maquiagem, sais de banho e pastas de dente.
A equipe dará continuidade ao trabalho, com novos estudos em animais. "O objetivo é determinar sinais únicos na pele que ocorrem durante o desenvolvimento da alergia alimentar. Isso levará a abordagens para impedir com segurança o desenvolvimento de alergia alimentar", diz a pesquisadora americana.