Estado de Minas POLÍTICA

Sabia que apenas sete mulheres concorreram à presidência da república desde 1989?

Representatividade feminina na política do Brasil ainda é baixa


postado em 12/07/2018 08:44 / atualizado em 12/07/2018 09:07

Das sete mulheres que concorreram à presidência da república, no Brasil, de 1989 até hoje, apenas Dilma Rousseff, do PT, conseguiu se eleger(foto: Roberto Stuckert Filho/PR/Divulgação)
Das sete mulheres que concorreram à presidência da república, no Brasil, de 1989 até hoje, apenas Dilma Rousseff, do PT, conseguiu se eleger (foto: Roberto Stuckert Filho/PR/Divulgação)
Quando alguém diz que a política, no Brasil, ainda é muito "machista", você pode até não concordar. Porém, sabia que desde a retomada das eleições diretas para presidente da república, há quase 30 anos, apenas sete mulheres se candidataram ao posto de comando do país? A primeira delas foi a advogada Lívia Maria Ledo Pio de Abreu, que disputou as eleições de 1989 pelo Partido Nacionalista – foi vencida por Fernando Collor. A mineira da cidade de Carangola recebeu cerca de 180 mil votos e terminou o primeiro turno em 16º lugar.

Para Lívia, o significado da participação vai além do resultado conquistado nas urnas naquele ano. "Fui agraciada com esse compromisso, essa missão de ser a primeira mulher candidata à presidência da república, representando as mulheres brasileiras no processo de redemocratização do país. Eu aceitei, foi difícil, porque foi amador, sem recurso, mas foi altamente gratificante, porque eu incentivei muitas mulheres a entrarem na política", relata Lívia Maria à Agência do Rádio Mais.

De lá pra cá, além de Lívia Maria, se candidataram à presidência Thereza Ruiz (1998); Ana Maria Rangel (2006); Heloísa Helena (2006); Marina Silva (2010 e 2014); Luciana Genro (2014); e Dilma Rousseff (2010 e 2014). A candidato do PT foi eleita em 2010 e reeleita em 2014, sendo a primeira mulher presidente da república.

Mesmo com esses exemplos, a representatividade feminina na candidatura para cargos na vida política brasileira ainda pode ser considerada baixa. Nas últimas eleições municipais de 2016, as mulheres foram 31% dos cerca de 500 mil candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.

Para a professora Tânia Navarro Swain, do departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), a presença das mulheres no executivo e no legislativo aumentou, mas está longe de ser ideal. "Atualmente, está começando a recuperar esta presença das mulheres em todos os domínios da sociedade, inclusive no domínio do poder político. Mas ainda é muito incipiente. Somos mais de 50% da sociedade e representamos o mínimo em termos de postos políticos, postos de mando e de decisão", comenta a professora à agência.

A Anna Carolina Aureliano, ativista do feminismo e mestranda em Direito das Relações Internacionais e Integração da América Latina, trabalhou durante cinco anos na secretaria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da presidência da república. Segundo ela, o Brasil é o pior país da América Latina em paridade política. "A ausência das mulheres na política é um resultado claro do patriarcado e as estruturas dos poderes colocado dentro dos partidos é historicamente dominada por homens [...] O Brasil é o pior país da América Latina em paridade política. Esta é a nossa realidade atual", conta Anna Carolina.

No Congresso Nacional, a participação das mulheres também é baixa. Segundo a Câmara dos Deputados, estão em exercício apenas 54 deputadas, de um total de 513 parlamentares. Já no Senado, são 13 senadoras, de um total de 81 parlamentares. Esses números colocam o Brasil na 154ª posição no ranking mundial da participação de mulheres no legislativo, feito pela ONU Mulheres, que fez o levantamento em 174 países.

A coordenadora da bancada feminina na Câmara dos Deputados, deputada Soraya Santos (PR-RJ), afirma que as mulheres precisam ter mais visibilidade para mostrar suas propostas. "Na eleição passada, para as vereadoras, nós tivemos mais de 14 mil mulheres que foram 'laranjas', com zero votos nas urnas. Não é porque a mulher não goste de política. A mulher não vai aceitar nunca ser usada de trampolim para as candidaturas masculinas como vinha sendo. Nós temos que dar voz as mulheres que podem mostrar uma bandeira, uma causa, mas elas não são vistas, porque o tempo de televisão, tempo do rádio, também não ia para elas", diz a parlamentar à Agência do Rádio Mais.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já determinou que pelo menos 30% do fundo especial de financiamento de campanha devem ser gastos em candidaturas de mulheres, nas eleições deste ano. Esse fundo é composto por recursos públicos da ordem de R$ 1,7 bilhão. O TSE também exigiu que se o percentual de candidaturas for superior ao mínimo de 30%, o repasse dos recursos do fundo e a distribuição do tempo de propaganda devem ocorrer na mesma proporção.

Abaixo, um perfil de todas as candidatas à presidência de república de 1989 até hoje:

Lívia Maria Ledo Pio de Abreu
A advogada Lívia Maria Ledo Pio de Abreu foi a primeira mulher do Brasil a concorrer ao cargo de presidente da república pelo extinto Partido Nacionalista (PN), em 1989.

Thereza Ruiz
A administradora de empresas Thereza Tinajero Ruiz foi a segunda mulher a se candidatar ao cargo de presidente da república, pelo Partido Trabalhista Nacional, em 1998.

Ana Maria Rangel
A cientista política Ana Maria Rangel decidiu se candidatar à presidência da república pelo Partido Republicano Progressista (PRP), em 2006, devido à experiência do trabalho social e ao profundo conhecimento dos problemas sociais no Brasil.

Heloísa Helena
A professora, enfermeira e política brasileira, Heloísa Helena, disputou o cargo de presidente da república em 2006 pela Frente de Esquerda, que era composta pelo Psol, PSTU e PCB.

Dilma Rousseff
A economista e política brasileira Dilma Rousseff foi eleita duas vezes presidente da república, em 2010 e em 2014. Ela foi a primeira mulher a governar o Brasil.

Marina Silva
A historiadora, professora, psicopedagoga, ambientalista e política brasileira Marina Silva foi candidata à presidência da república em 2010 pelo Partido Verde (PV) e voltou a ser candidata em 2014 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 2018, é pré-candidata ao Palácio do Planalto pela REDE.

Luciana Genro
Foi a candidata à presidência da república nas eleições de 2014, pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol).

(com Agência do Rádio Mais)

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