A psicóloga abordou questões intrínsecas à morte e ao envelhecimento de idosos que se consideravam preparados para a morte. A intensão era ampliar a visão dominante sobre o assunto e compreender de fato o que seria esta preparação.
Segundo a pesquisadora, os entrevistados discorreram sobre a morte com naturalidade, e entre as questões levantadas, duas se destacaram que foi a noção de corporeidade e de temporalidade. Ou seja, "a relação que o idoso mantinha com seu corpo devido às perdas ocasionadas pelas condições de saúde ; e reflexões acerca do passado, do presente e do possível futuro encurtado ". Tais pensamentos, afirma Gabriela, faziam parte do "entendimento sobre a velhice, o significado da morte e o sentido da vida".
Nos diálogos também se fizeram presente a dificuldade que os idosos possuíam de encontrar pessoas (familiares e profissionais da saúde) com quem pudessem discorrer sobre a questão da finitude da vida. A psicóloga lembra que "tal afastamento ocorre devido à cultura contemporânea que faz com que falar sobre a morte faz com que o interlocutor também reflita sobre a sua própria existência que é finita, o que causa medo e desconforto".
Nas entrevistas, foi possível identificar muitas possibilidades do que significa a preparação para a morte: reserva de dinheiro para pagamento de rituais fúnebres; a compra do próprio túmulo; divulgação do desejo de encaminhamento do corpo; testamentos; doações; despedidas; destinação de enxovais para um ente querido (bisnetos, por exemplo); quitação de dívidas; o cuidado de deixar exames e documentos em lugares de fácil acesso; dentre outros. Segundo Gabriela Gilberti, "essas preparações foram feitas pelos idosos no sentido de cuidar da vida – tanto da própria quanto de familiares e amigos que permanecerão vivos após a morte do idoso".
Levando em conta o entendimento de que a sociedade moderna evita a reflexão sobre a morte e o envelhecimento, a pesquisadora explica que a Medicina surge como tentativa de controlar e dominar o fim da vida. "De fato, os avanços tecnológicos melhoram o bem-estar, porém, o problema surge quando tais instrumentos são utilizados para prolongar vida sem refletir sobre a qualidade da existência de quem se mantém a vida e ou o sentido desse prolongamento", afirma a especialista, que propõe o aumento dos debates de como propiciar aos pacientes uma "morte digna”" de forma a assegurar também uma existência honrada.
Ainda conforme Gabriela Gilberti, o diálogo é necessário para que se possa respeitar a singularidade de cada indivíduo porque a visão de "dignidade sobre a morte e a vida é completamente individual".
(com Jornal da USP e assessoria de comunicação do Instituto de Psicologia).