Os pesquisadores avaliaram o consumo de álcool nos últimos 12 meses, com questões que analisaram quantidade e frequência do consumo da bebida; sintomas da dependência; e as consequências negativas do hábito nos universitários do curso de Medicina. O resultado mostra que o consumo de bebidas chegou a 81,1%. Além disso, o hábito de beber aumenta à medida que o curso avança. Os autores observaram que essa prática foi superior nos homens em comparação às mulheres, e que onde mais se bebe, no caso brasileiro, é nas festas realizadas em faculdades, já que lá os alunos encontram uma boa oferta de bebidas alcoólicas.
As razões que levam os alunos de Medicina a se interessarem pelas bebidas começa com a vontade de adquirir novas experiências, contestar e "transgredir como parte da construção da identidade", de acordo com o estudo. Os cientistas acreditam que, quando do ingresso na universidade, o desejo de independência dos alunos e, ao mesmo tempo, muitos destes últimos veem na bebida um "remédio" para solidão e depressão, por estarem longe dos familiares, e outros, para amenizarem "o peso das cobranças impostas pela vida acadêmica, a competitividade e as expectativas individuais".
A prática do "beber pesado episódico" é definida pelos autores como tomar cinco ou mais doses de bebidas alcoólicas em uma única ocasião, independente da frequência de consumo diário, na semana ou no mês, ou até mesmo da embriaguez – o que acontece mais acentuadamente com os homens. O artigo destaca também que o elevado nível de consumo em uma única ocasião tem sido associado a baixo desempenho nas atividades, doenças sexualmente transmissíveis, danos materiais, violência e consequências criminais.
Tendo em vista que a educação é um processo ativo que deve estimular uma atitude crítica e reflexiva, numa interação permanente com a realidade, os autores da pesquisa ressaltam a necessidade da criação de programas que possam interagir e mediar a educação, estabelecendo medidas de combate ao uso abusivo de álcool por estudantes do curso de Medicina. Os pesquisadores afirmam ainda que "para que uma estratégia cumpra seu papel transformador, deve-se contextualizar o problema visando a elaboração de estratégias de prevenção bem-sucedidas e duradouras", esperando que os resultados obtidos até agora contribuam para aprofundar futuras pesquisas sobre a questão.
(com Jornal da USP).