No trabalho foram utilizadas amostras de tecido muscular de ciclistas suplementados com beta-alanina após prática de exercício intenso. Nessas amostras, os pesquisadores detectaram a interação entre a carnosina e diferentes tipos de aldeídos reativos. "Nossos resultados revelam um dos papeis fisiológicos da carnosina muscular, especialmente durante o exercício intermitente de alta intensidade, e pode explicar seus efeitos ergogênicos e terapêuticos. A importância desse trabalho é o fato de mostrar mecanismos específicos da detoxificação de aldeídos reativos em amostras de tecido humano", afirma a professora Marisa Medeiros, líder da pesquisa, em entrevista para o Jornal da USP.
Conforme o estudo, a prática de exercício físico provoca aumento do chamado estresse oxidativo, isto é, um incremento de moléculas que podem reagir com DNA e proteínas, danificando o organismo. Dentre essas moléculas temos os aldeídos reativos, muitos dos quais têm propriedades passíveis de causar mutações e câncer. Portanto, reduzir a concentração de aldeídos é essencial para a função celular normal.
Para lidar com essas moléculas tóxicas, os organismos vivos desenvolveram mecanismos de defesa e de detoxificação.
A carnosina é encontrada em vários tecidos, sendo que nos músculos esqueléticos e no cérebro está presente em altas concentrações. Além da ingestão de carnes na alimentação, a forma mais efetiva de aumentar os níveis de carnosina nos tecidos é a suplementação com o aminoácido beta-alanina, um dos seus precursores.
Para Marisa Medeiros, a capacidade de sequestrar aldeídos é uma hipótese provável para explicar muitos dos efeitos atribuídos à carnosina. E, para testar essa hipótese, seu grupo desenvolveu uma metodologia ultrassensível e altamente específica, capaz de quantificar em tecidos humanos e fluidos biológicos a carnosina e moléculas associadas.
"Embora a carnosina seja conhecida dos cientistas há muito tempo, para desvendar os mecanismos pelos quais ela atua e conhecer seus alvos biológicos são necessárias técnicas que permitam mensurar o que está acontecendo nos tecidos", diz a pesquisadora ao Jornal da USP.
A cientista explica que o próximo passo será estudar os efeitos da suplementação com beta-alanina em grupo de pessoas da terceira idade. "Com o envelhecimento da população, é importante termos recursos que contribuam para a melhora da força muscular de idosos. Além disso, a carnosina também pode ser eficaz para combater a dor crônica, associada ao acúmulo de aldeídos", comenta Medeiros.
(com Jornal da USP).