Os dados, que foram coletados entre 2015 e 2016, indicam que 3% dos idosos relataram o uso da maconha no ano anterior. Isso representa um consumo sete vezes maior em comparação com um estudo semelhante feito com adultos dessa faixa etária em 2006 e 2007. Já na população de 50 a 64 anos, o aumento em relação ao levantamento de uma década atrás foi de mais de 100%. De acordo com Benjamin Han, professor do departamento de Medicina Geriátrica da Universidade de Nova Iorque, um dos autores do estudo, a continuidade no consumo da maconha é um reflexo das mudanças culturais que marcaram as pessoas que foram adolescentes ou jovens nas décadas de 1960 e 1970.
"Nós vivemos agora uma época de mudanças de atitude em relação à maconha. À medida que o estigma declina e o acesso aumenta, com o uso recreacional sendo liberado em alguns estados americanos, parece que os baby boomers a estão consumindo mais. Essa geração cresceu em um período de revoluções culturais significativas, o que inclui a popularidade da maconha nos anos 1960 e 1970", afirma o pesquisador, em comunicado enviado à imprensa.
No Brasil, não existem pesquisas epidemiológicas sobre uso de drogas ilícitas na terceira idade, mas estudos menores revelam que essa também é uma realidade por aqui. Um desses trabalhos, que avaliou 191 idosos atendidos nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Ribeirão Preto (SP), por exemplo, mostra que, entre eles, as substâncias mais consumidas, além do álcool, eram maconha, cocaína e crack.
Regularidade
No trabalho americano foram analisadas as respostas de 17.608 pessoas com mais de 50 anos, que participaram da Pesquisa Nacional Sobre Uso de Drogas e Saúde de 2015-2016.
Para a psiquiatra Helena Moura, especialista em dependência química e psicogeriatra, os resultados apontam para a necessidade de mais pesquisas sobre uso de drogas entre os baby boomers. "Não há quase nada sobre isso, e se trata de uma geração com um perfil cultural diferente da anterior. O que é preocupante é que não sabemos os efeitos da maconha no organismo dos idosos. Por exemplo, pode ter uma consequência negativa na mobilidade, aumentando o risco de queda? Ou uma consequência sobre a concentração e a memória?", diz a psiquiatra em entrevista para o jornal Correio Braziliense.
A médica destaca ainda que a maioria da população acima dos 50 anos toma uma série de remédios que podem sofrer interferência da maconha. "É importante perder o preconceito e não deixar de perguntar ao idoso se ele faz uso de drogas", alerta..