A tragédia causada pelo incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro (RJ), na noite de domingo, dia 3 de setembro, virou notícia em todo o mundo, ainda mais pela destruição de inúmeros artefatos de valor inestimável, como o crânio de Luzia, fóssil descoberto na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1975, e que é considerado o mais antigo exemplar humanos das Américas – no museu carioca também era exibida a reconstituição facial da antiga "mineira".
Luzia viveu há mais de 11 mil anos e é fundamental para se compreender como ocorreu a ocupaçãodo do continente americano. Isso porque muitos cientistas defendem a tese de que o Homo sapiens chegou às Américas há cerca de 11,2 mil anos, a partir do Estreito de Bering, entre Estados Unidos e Rússia. Essa teoria ganhou força depois que artefatos de uma cultura chamada Clóvis terem sido encontrados num sítio arqueológico do Novo México (EUA), no fim da década de 1920.
No entanto, com a descoberta de Luzia, a teoria dos "clovistas" perdeu força, porque, na velocidade com que se deslocava naquela época, seria impossível para o homem chegar tão rapidamente à América do Sul, argumentam pesquisadores que se opõem a essa explicação. A existência do fóssil descobertos em Minas, diz esse grupo, sugere que o Homo sapiens atravessou o Estreito de Bering antes do povo Clóvis, há cerca de 14 mil ou 15 mil anos, e, com o tempo, migrou para o sul.
Entre os cientistas que mais colaboraram para o fortalecimento dessa segunda teoria está o biólogo, antropólogo e arqueólogo brasileiro Walter Neves, responsável por batizar Luzia, nome escolhido em referência ao australopiteco etíope Lucy, fóssil de humanoide mais antigo já encontrado no mundo. Segundo ele, Luzia e várias outras descobertas, como novos fósseis, objetos e artes rupestres descobertos no Brasil e no Chile, representam um duro golpe na teoria clovista.
Mulher de 20 anos
Estudos de datação de carbono apontaram que o fóssil abrigado no Museu Nacional era uma mulher que estava na faixa dos 20 anos quando morreu, tinha 1,5 m de altura e possuía traços negroides, com nariz largo e olhos arredondados. A reconstituição de seu rosto foi feita em 1999, por pesquisadores da Universidade de Manchester, da Inglaterra, que usaram como base o crânio.
O fóssil gerou ainda a denominação Povo de Luzia, em referência aos primeiros homens e mulheres que habitaram a região arqueológica de Lago Santa. Porém, atualmente, o grupo ao qual Luzia pertenceu foi apenas um dos vários que viveram no lugar em diferentes períodos, tendo como subsistência a caça de animais de pequeno e médio portes e a coleta dos recursos vegetais disponíveis na região.
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