A obra narra, sob o ponto de vista do autor, as 15 primeiras horas de mobilização dos bombeiros, que, de acordo com o militar, foram imprescindíveis para que a tragédia não fosse ainda maior, pois havia o risco do rompimento de uma segunda barragem próxima da que sucumbiu, e 500 pessoas que estavam ilhadas foram resgatadas.
Encontro entrevistou o capitão Leonard Farah sobre o relato eternizado por ele nas páginas de Além da Lama, confira abaixo:
ENCONTRO - 1) Como surgiu a ideia de escrever o livro? Como o senhor acha que será a recepção dos leitores, uma vez que todo mundo se sensibilizou com o rompimento da barragem da Samarco?
LEONARD FARAH - O rompimento da barragem em Mariana impactou quem esteve ali envolvido e o mundo todo. Então é natural que essa operação fique marcada na nossa história. As primeiras 15 horas foram de muita tensão e difíceis para muitas pessoas, mas também é um bom exemplo de dedicação, compromisso e fé que envolveu bombeiros, outros militares, voluntários e moradores. Quando eu contei o que aconteceu ao Comandante do batalhão da área ele pediu para colocar num relatório. Ao começar a escrever, percebi que as nossas ações não conseguiam ser resumidas em poucas páginas, e a medida que contava para os amigos, ou em palestras, muitos me incentivavam a escrever essa história com todos os detalhes. Assim surgiu o livro.
Eu acredito que esse livro permitirá que os leitores fiquem ainda mais confiantes no trabalho do Corpo de Bombeiros, além de serem tocados por sentimentos positivos de superação, de altruísmo e da capacidade que qualquer um possui de ajudar alguém, mesmo que não o conheça. Muito mais do que acompanhar os bastidores de uma operação militar num desastre de grandes proporções, é possível "conviver” com um pouco do nosso cotidiano e ver que os bombeiros são homens e mulheres iguais a eles, mas capacitados e dispostos a fazer coisas extraordinárias.
2) Quais foram os fatos ou decisões mais importantes tomadas nas primeiras horas da tragédia? Como isso contribuiu para que o número de vítimas não fosse maior?
O primeiro fato importante era já ter a dimensão do que era um acidente de barragem e, então, tomar a decisão de chegar rapidamente ao local de helicóptero e não via terrestre. O segundo fato foi, após avaliar a primeira cena do impacto, seguir a frente da rota da lama para ver seu destino e, assim, pousar em Paracatu de Baixo. Atualmente eu considero essa uma missão suicida, pois realmente tivemos sorte, e algo mais, para não morrer ao tentar avisar aquelas pessoas que não sabiam o que estava para acontecer ali. O terceiro fato que vejo como uma decisão de enfrentar a morte, foi dispensar os helicópteros com feridos e permanecer em Bento Rodrigues durante a noite, tentando abrir uma rota de fuga para tirar aquelas pessoas o mais rápido possível, pois havia um alerta de rompimento de outra barragem que era muito maior que a que se rompeu. Então, se essa barragem tivesse mesmo rompido, todos nos morreríamos, pois não havia onde se esconder, nem para onde correr. Acredito que essas decisões contribuíram para que a tragédia não fosse maior. Se não tivéssemos descido em Paracatu de Baixo, provavelmente estaríamos lamentando mais de 200 mortos.
3) Como foi trabalhar sob a pressão de saber que outra barragem poderia se romper em seguida?
Eu não pensava na barragem que estava para romper. Eu pensava nas pessoas e que elas precisavam sair dali rapidamente. Em nosso treinamento eu ensino aos alunos a olhar para a solução e não para o problema. Isso nos ajuda a manter a calma nos momentos críticos e tomar decisões racionais e não emocionais. Se eu ficasse focado na segunda barragem que estava para romper, provavelmente eu tomaria decisões precipitadas e, muito possivelmente, erradas. De onde estávamos, não poderíamos conter a outra barragem, então o foco era naquelas pessoas.
4) O senhor trabalhou em Brumadinho? Como a tragédia de Mariana ampliou o conhecimento dos Bombeiros de MG para atuar nesse outro desastre?
Eu estava de férias e com o pé quebrado, quando fui avisado do rompimento da barragem em Brumadinho. Não tive dúvidas ao tirar o imobilizador, fazer a barba, colocar minha farda e meu coturno e ir para lá imediatamente. Eu fiz especialização sobre gestão de desastres no Japão e já tinha participado de outros grandes acidentes com barragens, um deles em Mariana. Apesar de não serem situações exatamente iguais, há muitas características e modo de agir que se aplicam em ambos os casos. Então, eu tinha experiência para ajudar aquelas pessoas em Brumadinho e era meu dever como bombeiro estar lá para ajudar.
Lançamento do Livro Além da Lama
Onde: Faculdade de Direito da UFMG (Projeto Sempre Um Papo)
Endereço: Av. João Pinheiro 100, Centro, Belo Horizonte
Data: 5/11 (terça-feira)
Horário: 19h30
Entrada gratuita
.
Lançamento do Livro Além da Lama
Onde: Faculdade de Direito da UFMG (Projeto Sempre Um Papo)
Endereço: Av. João Pinheiro 100, Centro, Belo Horizonte
Data: 5/11 (terça-feira)
Horário: 19h30
Entrada gratuita