O desaparecimento de espécies de animais afeta os ecossistemas e interfere diretamente na vida humana. O problema tem aumentado no Brasil. Em uma década, a lista de bichos ameaçados de extinção cresceu 87%. Em 2008, o Ministério do Meio-Ambiente lançou um catálogo com 627 animais em risco. Hoje, o número chegou a 1.173.
Esse é somente um dos exemplos do descaso com a fauna. A preocupação de especialistas é com a falta de políticas públicas de prevenção. Os últimos mapeamentos mostram que a Mata Atlântica está em colapso.
Elaborada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Declaração Universal do Direito dos Animais completou 40 anos em janeiro. Contudo, ambientalistas criticam a ausência de políticas públicas que implementem a cartilha.
Para o professor Reuber Albuquerque Brandão, do departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (UnB), existe um recrudescimento do assunto. "A maior parcela dos candidatos encara o meio ambiente como atraso para a economia, para a indústria, para a geração de empregos. Infelizmente, temos falta de ações de várias áreas, um grande conflito na questão fundiária e na falta de planejamento para áreas de conservação de biodiversidade", critica o especialista em entrevista para o jornal Correio Braziliense.
Ugo Vercillo, diretor do departamento de Conservação e Manejo de Espécies do Ministério do Meio-Ambiente, destaca que 25% das espécies ameaçadas de extinção não são cobertas por nenhuma medida de preservação. "Ampliamos as ações de conservação, como áreas de proteção e elaboração de planos nacionais de preservação de espécies consideradas ameaçadas de extinção. Estamos firmando um acordo que trará US$ 60 milhões para que 100% das espécies estejam protegidas. O lançamento deve ocorrer até o fim do ano", comenta ao Correio.
Veja as espécies ameaçadas segundo levantamento do Ministério do Meio-Ambiente:
- 310 peixes continentais
- 233 aves
- 233 invertebrados terrestres
- 110 mamíferos
- 98 peixes marinhos
- 80 répteis
- 66 invertebrados aquáticos
- 41 anfíbios
É possível, contudo, que esses números sejam maiores. Pesquisa divulgada na última edição da revista científica Plos One destaca que um "colapso" afeta a Mata Atlântica. Pressionada pela excessiva exploração humana, a população de mamíferos da floresta tropical foi reduzida pela metade desde o início da colonização, há cinco séculos. As principais vítimas são animais de médio e grande portes, como onças-pintadas e antas.
Os pesquisadores compararam inventários sobre a Mata Atlântica publicados nas últimas três décadas e dados sobre a biodiversidade da área na época do Brasil Colonial. A conclusão é de que a agricultura, a extração de madeira e os incêndios mitigaram drasticamente o tamanho do bioma.
As populações de mamíferos foram duramente penalizadas. Houve perdas de indivíduos em cerca de 500 espécies. "Esses hábitats estão severamente incompletos, restritos a remanescentes florestais insuficientemente grandes e presos num vórtice de extinção em aberto. Esse colapso é sem precedentes tanto na história quanto na pré-história e pode ser diretamente atribuído à atividade humana", diz Juliano Bogoni, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), que liderou o estudo, no artigo de divulgação da pesquisa.