Revista Encontro

Alerta

Muitos médicos desconhecem o público LGBTQ+

Isso ficou comprovado por um estudo da UnB

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- Foto: Pixabay

Um estudo recente realizado pela Universidade de Brasília (UnB) constatou que há um desconhecimento de médicos heterossexuais quanto à homossexualidade. Visando identificar percepções equivocadas que podem prejudicar o atendimento de pacientes, Renata Corrêa-Ribeiro, Fabio Iglesias e Einstein Francisco Camargos questionaram 224 profissionais atuantes no Distrito Federal, a partir de um roteiro de perguntas formuladas por estudiosos americanos.

Ao final do experimento, a pesquisa descobriu que os participantes acertaram, em média, apenas 11,8 dos itens (65,5% das 18 respostas dadas). Alguns deles atingiram somente dois acertos.

O número de erros foi maior entre católicos e evangélicos, que indicaram 11,43 alternativas corretas, em média. A pontuação dos médicos que informaram ter outras religiões ou nenhuma foi de 12,42 acertos.

Os participantes tinham, em média, 42 anos de idade, e eram majoritariamente mulheres (149 profissionais ou 66,5%). À época da aplicação do questionário, a maioria (208 pessoas ou 92,9%) exercia a atividade após concluir a residência médica.

No artigo que foi publicado este ano, os autores destacam que a sociedade médica tem alertado, há algum tempo, para comportamentos de profissionais da categoria que podem prejudicar o atendimento do segmento LGBTQ%2b (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais). Com medo de serem hostilizadas, as pessoas pertencentes a esses grupos podem acabar deixando, por exemplo, de fazer consultas periódicas, tão importantes na detecção de doenças em estágio inicial.

Riscos

O estudo constatou problemas como falta de treinamento de profissionais de saúde, que têm dificuldade de abordar questões relacionadas à sexualidade, presença de barreiras e práticas institucionalizadas consideradas preconceituosas. Segundo os autores, a desinformação dos profissionais de saúde aumenta o risco de adoecimento mental, suicídio, câncer e de contração de doenças sexualmente transmissíveis.

Em alguns casos, conforme a pesquisa, a rejeição dos profissionais de saúde leva ao desinteresse ou ao atraso no atendimento; ao ocultamento da orientação sexual; ao aumento da automedicação; e à busca de informações fora da rede médica, por meio de farmácias, de revistas, de amigos e da internet. Alguns pacientes só procuram o médico em situações de emergência ou em casos extremos, por receio de enfrentarem discursos homofóbicos, humilhações, ridicularizações e quebra de confidencialidade.

Erros

A questão que apresentou o maior percentual de erro, ressaltam os pesquisadores da UnB, foi a que pedia para classificar a informação de que quase todas as culturas têm mostrado ampla intolerância contra os homossexuais, considerando como "doentes" ou "pecadores".
Neste caso, 154 médicos (68,8%) erraram a pergunta e julgaram o item verdadeiro; 37 médicos (16,5%) julgaram a informação falsa, acertando a questão; e 33 (14,7%) não souberam responder.

Um total de 34,4% dos entrevistados não soube responder se a homossexualidade era doença e 4,9% responderam que sim. O item que afirmava que uma pessoa se torna homossexual por conta própria, foi considerado verdadeiro por 32,1% dos médicos, e 13,8% não souberam responder. "Essa resposta revelou que quase metade dos médicos desconhecia os vários aspectos biopsicossociais relacionados à homossexualidade e a atribuía simplesmente a uma escolha feita pelo indivíduo", diz o grupo de cientistas no artigo.

(com Agência Brasil).