Revista Encontro

Carnaval 2019

Glitter enfeita mas pode ser um risco para os oceanos

Acessório de beleza é considerado microplástico e um perigoso poluidor

Encontro Digital
- Foto: Pexels

No Carnaval, muitos foliões não abrem mão de um componente na hora de criar a fantasia: glitter. Muito usado em cosméticos e maquiagens, esse produto que dá cor e brilho aos looks possui um lado negativo: eleva também a poluição dos oceanos com microplásticos.

Os grãos minúsculos feitos de alumínio e plástico do glitter são classificados como microplásticos por terem menos de cinco milímetros de diâmetro. O problema é que esse tipo de microplástico não é filtrado pelos sistemas de tratamento de esgoto e acabam afetando rios e oceanos, onde costumam ser ingeridos por plantas e animais.

"Quando o folião se lava, esse material vai para a rede de esgoto. Um agravante é que muitas cidades brasileiras não tratam seu esgoto, então isso é lançado diretamente nos corpos de água, o que afeta a biota desde os corpos de água doce até o destino final, que são os oceanos", comenta a professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química da Unicamp, em entrevista para a emissora estatal alemã Deutsche Welle.

No ambiente aquático, o maior problema é a possibilidade de ingestão pelos seres vivos que nele habitam. Além de o microplástico substituir um alimento sem oferecer em troca qualquer valor alimentício, o que gera desnutrição, ele pode obstruir as vias e alterar as funções do corpo. Quanto menor a partícula, maior a chance de ela ser ingerida por organismos menores, ampliando o alcance do problema.

"No caso do mar, o microplástico é ingerido pelo plâncton, que é ingerido pelos peixes, e acaba indo parar na  alimentação humana. É a mesma coisa se considerarmos o microplástico em ambiente terrestre: de alguma maneira vai parar na comida das pessoas", diz o biólogo Cláudio Gonçalves Tiago, do Centro de Biologia Marinha da USP, também em conversa com a emissora.

Diante dos riscos ambientais, fabricantes de glitter têm investido em versões ambientais, e essa tendência também chegou ao Brasil. É possível encontrar nas redes sociais, em especial no Instagram, uma vasta gama de marcas dedicadas a alternativas biodegradáveis e de cosméticos naturais.

Em lugar de plástico, o glitter biodegradável possui componentes naturais, como celulose, óleos, ceras, agar agar (alga), materiais alimentícios e corantes naturais.

Com preços e composições variáveis, o bioglitter, como é chamado, é feito para deixar rastros mínimos no meio-ambiente depois do uso, ao contrário do produto tradicional, que demora centenas de anos para se decompor.

Cláudio Gonçalves destaca que um glitter biodegradável eficiente deve se dissolver na água sem gerar produtos químicos indesejáveis ou matéria orgânica que, em quantidades exageradas, pode causar prejuízos aos cursos d'água, como o amido.
"Tudo tem que ser pensado nos termos da grande população humana que nós temos e que utilizam esses produtos", afirma o biólogo à Deutsche Welle.

Uma outra sugestão que circula pela internet para evitar que o glitter chegue aos oceanos é removê-lo com lenços umedecidos. A eficácia da proposta depende, porém, de os lenços serem descartados corretamente. "Tirar com o lenço evita chegar ao oceano amanhã, mas vai chegar daqui a 150 anos", alerta Cláudio.

(com Deutsche Welle).