Estado de Minas SERRA DO ESPINHAÇO

Sempre-vivas de Minas podem virar Patrimônio Agrícola Mundial

Título é concedido pela ONU e inédito no Brasil


postado em 11/03/2019 17:38 / atualizado em 12/03/2019 10:39

(foto: Fernando Marino/Wikimedia/Creative Commons/Reprodução)
(foto: Fernando Marino/Wikimedia/Creative Commons/Reprodução)

Muito usada no artesanato em Minas Gerais e em outras partes do país, as flores sempre-vivas possuem uma importância histórica, econômica e sociocultural para diversos apanhadores que trabalham nesse sistema de agricultura tradicional. Um dos locais mais representativos da atividade é a região da Serra do Espinhaço, na região norte do estado. Agora, a prática famosa em Minas pode se tornar a primeira do Brasil a ser reconhecida como Patrimônio Agrícola Mundial, título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) a sistemas no mundo que atravessaram adversidades ao longo da história e, mesmo assim, foram capazes de manter as tradições culturais, a diversidade agrícola e cumprir uma função ecológica. Até o momento, existem 57 patrimônios do tipo no mundo.

O processo começou em 2016, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Embrapa pré-selecionaram cinco locais no país, entre eles a região de Diamantina (MG). No ano seguinte, foi realizada uma ação junto aos apanhadores de flores sempre-vivas e à Comissão em Defesa dos Direitos das Comunidades Extrativistas da Serra do Espinhaço de Minas Gerais (Codecex). Foram identificados, nessa primeira etapa, 30 municípios da Serra do Espinhaço em que a atividade é praticada, incluindo as comunidades rurais de Buenópolis, Diamantina e Presidente Kubitscheck.

"Para solicitar a candidatura, o sistema agrícola deve ser único e atender a algumas características, como possuir uma paisagem notável e diferenciada, rica biodiversidade, segurança alimentar, modelos de gestão diferenciados com sistemas de conhecimento local e tradicional, tecnologias de produção engenhosas, identidade cultural e valores socioculturais utilizados para sua manutenção", comenta Márcia Bonetti, coordenadora técnica estadual da Emater, em entrevista para a Agência Minas.

Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foram os responsáveis pela produção do dossiê técnico-científico que conta a história do sistema agrícola tradicional dos apanhadores dessas flores usadas em artesanato. O documento foi encaminhado à FAO pelo Ministério das Relações Exteriores, em novembro do ano passado, juntamente com o plano de conservação dinâmica elaborado pela Codecex em parceria com o governo de Minas Gerais, prefeituras e demais parceiros.

Segundo Márcia Bonetti, os apanhadores desenvolveram sistemas agrícolas diversificados em variadas altitudes, que vão de 600 a 1,3 mil m, aprenderam a lidar com a paisagem e com toda as adversidades encontradas ao longo dos séculos. No topo da serra, eles soltam o gado em uma parte do ano, coletam e fazem o manejo das flores sempre-viva. Nas partes mais baixas, realizam o plantio das roças de toco e fazem uso de sementes crioulas, cultivadas ao longo de gerações.

O conhecimento é secular e, por meio dele, o homem vem realizando intervenções sustentáveis em regiões pouco atrativas devido às características do solo e relevo. O resultado é um sistema agrícola com uma paisagem notável que tem resistido às mudanças climáticas e sociais, e refletido em importante material genético para o futuro da humanidade.

Para a secretária, o reconhecimento dos apanhadores de flores de sempre-viva aumenta a expectativa de investimentos, políticas públicas adequadas, geração de empregos e, consequentemente, a renda destas populações. "Esta conquista trará muito orgulho para Minas Gerais e também para o Brasil",  diz Márcia Bonetti à agência estatal.

(com Agência Minas)

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