O ex-catador de papelão instalou-se na região há pouco mais de um ano com o objetivo de ter um negócio próprio e divulgar a cultura. Todos os exemplares têm preço único: R$ 5. No início, vendia de três a cinco unidades por dia. Em pouco tempo esse volume deu saltos e hoje chega a vender diariamente 60 livros para público variado, que vai de crianças a idosos. “As máquinas prejudicam muito a visão. As pessoas vão voltar a ler livro de papel cada vez mais”, diz Odilon.
O livreiro da esquina escolheu o ponto a dedo. “A área é nobre, até o lixo é mais rico”, diz. Odilon trabalhava com reciclagem e a ideia de começar a vender livros nasceu depois de perceber a quantidade grande de exemplares de boa qualidade jogados no lixão.
Ele começa a jornada às 9h30 e vai até às 20 horas, de segunda a sábado. Conseguiu estudar só até a quarta série do ensino fundamental e lamenta não ter tempo para ler muito. “O livro é um aprendizado eterno”, diz. Entre os títulos mais disputados na calçada estão Pai Rico, Pai Pobre (Robert Kiyosaki e Sharon L.Lechter), a Lei do Triunfo (Napoleon Hill), Os Segredos da Mente Milionária (T.Harv Eker) e o Poder do Agora (Echkart Tolle).
A maior parte das publicações ele recebe de doação ou compra pelo valor simbólico de R$ 1. Vende muito para sebos, mas prefere o cliente comum. Já formou uma clientela fiel, como livreiro Átila Kaiser, morador do Cruzeiro. “A ideia é excelente, sempre troco livros com ele”, diz Átila.
No ano passado, a prefeitura de Belo Horizonte apreendeu 2 mil livros de Odilon. A clientela gritou a seu favor e advogados da vizinhança decidiram representá-lo. “A população me apoia, mas a legislação não”, afirma o livreiro. “Eu não quero ser taxado como camelô, mas como pessoa que divulga a cultura”, diz.
Odilon mora em um barraco de dois cômodos no bairro São Pedro, próximo da sua “livraria”. No final do dia, empacota toda a sua mercadoria, guarda em caixas e tem o auxílio de um vigia noturno, um amigo da época do trabalho de reciclagem, que dorme abaixo da marquise.
Sempre com sorriso no rosto, ele conta que já fez vários tipos de bico, de plantação de lavoura a trabalho em marcenaria, fábrica de louças e catador de papelão. Começou a vender livros depois que se separou da mulher. Na época trabalhava com reciclagem. “Ela bebia muito, e da pinga barata”, diz. Saiu de casa e não voltou mais. E tem sonho: “Ah, eu queria ter a minha própria banca, assim evitaria confusões”.
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