Um trabalho realizado pelo biólogo Leonardo José da Silva, com orientação do pesquisador Itamar Soares de Melo, da Embrapa Meio-Ambiente de São Paulo, descobriu que bactérias que vivem na rizosfera (entorno das raízes) da gramínea Deschampsia antarctica que só ocorre na Antártica apresentam ação anticancerígena.
A pesquisa selecionou um grupo de bactérias associadas a essa gramínea, as actinobactérias, reconhecido por produzir uma gama de substâncias bioativas e com comprovado potencial para gerar produtos antitumorais. Desse material, Leonardo Silva identificou e caracterizou os compostos responsáveis pela atividade antitumoral e avaliou a identidade taxonômica (classificação) de algumas linhagens para descrição de possíveis novas espécies de actinobactérias.
Esses micro-organismos apresentam também o potencial de inibir e controlar a bactéria fitopatogênica Agrobacterium, responsável pela formação de tumores em plantas e que tem causado severos danos a várias culturas de importância agrícola. O controle da Agrobacterium tem sido muito difícil e as actinobactérias são capazes de produzir antibióticos para uso na agricultura. Além disso, essas mesmas bactérias têm apresentado forte atividade contra o fungo Pythium aphanidermatum, um importante agente de doenças em culturas.
A estimativa é de que cerca de 50% dos agentes anticancerígenos utilizados atualmente têm origem em plantas e micro-organismos e entre eles as actinobactérias se destacam pela versatilidade metabólica e pela produção de compostos com atividade bactericida, fungicida, algicida e anticâncer. A maior parte dos fármacos apresenta atividade contra a proliferação das células tumorais, e abordagens recentes procuram selecionar agentes bioativos específicos para inibição da vascularização de tecidos tumorais, ou seja, que afetem o fornecimento de sangue das células doentes. Em busca de alternativas de combate, cientistas têm buscado novos recursos microbianos em habitats intocados, principalmente em ambientes extremos, os chamados extremófilos, que geralmente produzem substâncias raras.
As amostras da gramínea usada no estudo foram coletadas durante a 33ª Operação Antártica. Na época, em dezembro de 2014, poucas áreas com solos livres de gelo foram encontradas. O período foi escolhido por ser época de brotamento das espécies vegetais e de aumento da atividade biológica da região.
Conforme Leonardo Silva, 30 linhagens de actinobactérias produtoras de substâncias bioativas foram selecionadas para produção de substâncias antitumorais. O pesquisador identificou e caracterizou os compostos responsáveis pela atividade antitumoral e avaliou a identidade de todas as linhagens por meio do sequenciamento do DNA e de outros métodos.
Após os testes, várias actinobactérias foram consideradas promissoras para produção de compostos antitumorais, e passarão agora por ensaios antiproliferativos e caracterização dos agentes ativos, responsáveis pelas propriedades de inibição.
(com assessoria de comunicação da Embrapa Meio-Ambiente)