Um estudo feito por pesquisadores brasileiros descobriu que macacos haviam sido mortos a tiros ou pauladas pela população nos municípios de São José do Rio Preto (SP) e de Belo Horizonte (MG) em decorrência dos surtos de febre amarela em 2017, estavam infectados com o vírus da zika, o que fez com que adoecessem e ficassem mais vulneráveis ao ataque humano.
"A descoberta indica que existe o potencial de um ciclo silvestre para a zika no Brasil, como acontece com a febre amarela. Se o ciclo silvestre for confirmado, isso muda completamente a epidemiologia da zika, porque passa a existir um reservatório natural a partir do qual o vírus pode reinfectar muito mais frequentemente a população humana", comenta Marcio Lacerda Nogueira, professor na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, coordenador do estudo, em entrevista para a Agência Fapesp.
Segundo o cientista, apesar de o vírus da zika já ter sido encontrado em macacos que vivem perto de humanos no Ceará, esta é a primeira vez que é identificado como epidemia. O professor diz ainda que, durante a epidemia de febre amarela, os pesquisadores perceberam que havia muitos macacos mortos, não pela febre amarela, mas pela ação das populações humanas, com medo de serem contagiadas. Esses animais foram mortos a tiros, pauladas ou mordidos por cachorros.
"Quando saudáveis, esses primatas, principalmente saguis e micos, são muito difíceis de capturar. Raciocinamos, então, que, se estavam sendo mortos com facilidade, era porque poderiam estar doentes. Não pela febre amarela, que os mata. Mas por alguma outra doença, que, sem matar, os deixava mais fracos e vulneráveis", diz Marcio Nogueira.
Após a análise das carcaças dos macacos, constatou-se que o vírus que os infectou é muito parecido com o que estava infectando os humanos. No mesmo lugar onde os bichos estavam mortos, foram encontrados e coletados mosquitos infectados por zika.
"Para levar adiante o estudo, induzimos infecção experimental por zika em macacos vivos. E a inoculação dos vírus provocou presença de vírus no sangue. Os macacos tiveram alteração de comportamento, confirmando nossa hipótese inicial, de que a infecção os teria tornado mais suscetíveis a serem capturados e mortos", diz o pesquisador.
Os cientistas concluíram que a infecção natural e experimental de macacos com zika indica que esses animais podem ser hospedeiros vertebrados na transmissão e circulação do vírus em ambientes tropicais urbanos, mas é preciso que sejam feitos mais estudos para avaliar o papel deles macacos na manutenção do ciclo urbano da doença.
(com Agência Fapesp e Agência Brasil)