Uma pesquisa do Instituto de Química da USP utilizou luz e compostos fotossensibilizadores (que absorvem luminosidade) para atuar em locais específicos nas células (mitocôndrias e lisossomos), levando à sua total destruição. A descoberta poderá aperfeiçoar a terapia fotodinâmica utilizada no tratamento do câncer e de outras infecções.
Em geral, os compostos fotossensibilizadores absorvem luz e transferem energia para formar substâncias com grande reatividade química, as quais causam danos irreversíveis às células. "Eles podem levar a célula a morrer de forma descontrolada, no caso de dano muito severo, também chamada de necrose. Podem ainda induzirem a ativação de mecanismos de morte programada ou de reparos que acabam por levar a célula a morrer também, mas de forma menos drástica que na necrose", comenta o professor Maurício Baptista, coordenador da pesquisa, em entrevista ao Jornald a USP.
A terapia fotodinâmica pode induzir a morte celular de várias formas. "Isso depende de diversos fatores, como o tipo de célula tumoral, a estrutura dos compostos fotossensibilizantes, a dose de luz e a concentração do próprio composto. Hoje se alcança praticamente qualquer tecido com luz e consequentemente qualquer doença que envolva proliferação celular descontrolada pode ser tratada pela terapia, mas principalmente câncer e lesões pré-cancerígenas, infecções por microorganismos e vírus e degenerescência da mácula ligada a idade, doença que afeta a retina e pode levar à perda da visão", afirma o pesquisador da USP.
Ainda de acordo com o professor, as pesquisas procuram aprimorar a eficiência dos fotossensibilizadores. "Os estudos identificam as maneiras que esses compostos matam células tumorais ou agentes infecciosos da forma mais elegante, sem causar danos nos tecidos vizinhos e com a menor quantidade possível de luz e do próprio fotossensibilizador", destaca Maurício Baptista.
Autofagia
A autofagia é um mecanismo de sobrevivência celular, baseado na degradação e reciclagem de organelas no seu interior, mantendo a célula estabilizada frente ao estresse nutritivo ou mesmo oxidativo. "Células com mecanismo autofágico funcional têm uma sobrevida maior do que células com autofagia defeituosa, que tendem a envelhecer rapidamente e a morrer com maior facilidade. Células tumorais necessitam de forma mais contundente da autofagia para sobreviver, pois seus mecanismos celulares não são tão bem controlados. Consequentemente, atualmente busca-se novas drogas antitumorais identificando moléculas que afetam a autofagia", diz o cientista ao Jornal da USP.
A mitocôndria é a organela responsável pela manutenção dos níveis de energia da célula e também tem papel central nos mecanismos de sinalização que definem se ela pode continuar viva ou se deve morrer (mecanismos regulados de morte celular). "Ela necessita de processamento e reciclagem constante, então tem um mecanismo de ativação da autofagia pronto para agir quando há algum problema. O lisossomo é a organela que executa a digestão de mitocôndrias danificadas", explica Baptista.
A pesquisa demonstrou que danos específicos nas membranas da mitocôndria ativam a mitofagia. "Paralelamente, danos nas membranas dos lisossomos inibem a execução da autofagia. Esses dois processos combinados conduzem a célula à morte de forma contundente, e em decorrência de danos iniciais muito pequenos, mas bem localizados", diz o professor. As conclusões foram publicadas na revista científica Autophagy.
(com Jornal da USP)