Pesquisadores do Instituto Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) encontraram uma nova espécie de inseto que pode transmitir a leishmaniose. A descoberta se deu numa área de floresta próxima a uma mineração em Itaituba, a 1,3 mil km de Belém, no Pará. Ao todo, os cientistas capturaram cinco exemplares machos da espécie, que pertence ao gênero flebotomíneo, mesmo grupo das moscas, mosquitos e borrachudos que, em grande parte, transmitem o parasita Leishmania, causador da doença.
O novo inseto é de cinco a seis vezes menor que o mosquito-palha (mais conhecido transmissor da leishmaniose), e só é possível vê-lo por meio de lupa ou microscópio. Diferente do Aedes aegypti, por exemplo, ele não precisa de água para se reproduzir. Vive em ambiente terrestre, comumente no solo de tocas de animais como tatus. Os pesquisadores conseguiram capturá-lo com o uso de armadilhas. Não foi coletado nenhum exemplar fora da região amazônica.
Após a identificação do Trichophoromyia iorlandobaratai, como foi chamado o inseto, os cientistas, agora, querem encontrar fêmeas da espécie, para comprovar se elas são transmissoras da leishmaniose. "Para ela ser considerada vetora, precisa ter a preferência alimentar, ter atratividade à espécie humana e ter a presença do sangue humano no intestino", explica Thiago Vasconcelos dos Santos, um dos autores do estudo, em entrevista ao jornal Correio Braziliense. Os resultados foram publicados no periódico científico Jornal of Medicial Entomology em novembro.
Esta é a 23ª espécie de flebotomíneo associado à transmissão da doença. "Acrescentar conhecimento dos vetores da doença sempre é importante. Agora, o essencial é relacionar o comportamento do inseto com a doença. Isso ainda precisa ser estudado. Alguns transmitem com maior eficiência, outros, não. Isso depende do inseto, do animal que ele vai picar e da preferência de se alimentar de sangue humano", comenta Gustavo Adolfo Sierra Romero, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), também em conversao com o Correio.
Vale lembrar que existem dois tipos de leishmaniose: visceral e tegumentar. A transmissão do parasita Leishmania ocorre apenas por meio da picada do mosquito fêmea infectado. Na maioria dos casos, o período de incubação é de dois a quatro meses, mas pode variar de 10 dias a 24 meses. Os principais sintomas são febre de longa duração, fraqueza, aumento do baço e do fígado, comprometimento da medula óssea, problemas respiratórios e sangramentos na boca e nos intestinos. Se não tratada, a condição pode levar à morte do infectado.
Em qualquer lugar do Brasil, podem se encontrar flebotomíneos. "Nas américas, existem mais de 500 espécies, mas apenas 10% estão associadas à leishmaniose", diz Thiago, Santos, que não descarta a possibilidade de o inseto se adaptar a áreas urbanas. Uma das possibilidades é na região metropolitana de Belém. A Fiocruz já identificou 80 espécies diferentes de flebotomíneos na Amazônia.