O própolis produzido pela abelha-europeia (Apis mellifera) possui ação contra o fungo P. aphanidermatum, microrganismo que causa danos em diversas culturas como milho, citros, tomate, beterraba e pimentão. A descoberta foi realizada pelo pesquisador Wallance Pazin, da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Embrapa Meio-Ambiente de São Paulo. Foram avaliados quatro tipos de própolis coletados em diferentes regiões do Brasil.
O produto produzido pelo inseto é chamado de própolis verde e suas ações preventivas e terapêuticas já são bem conhecidas pelos cientistas – foram comprovadas propriedades antimicrobianas, antitumorais e antioxidantes.
A nova pesquisa é voltada a aplicações agrícolas e abre caminho para o desenvolvimento de defensivos naturais a preços acessíveis, o que o torna valioso especialmente para pequenos produtores.
"O própolis verde, conhecido como 'ouro verde da natureza', é um verdadeiro presente para a nossa saúde. Ele é produzido a partir da extração, feita pela abelha africanizada, da resina de uma planta conhecida como alecrim do campo, que é abundante no Brasil", conta a pesquisadora Sonia Queiroz, orientadora do estudo, citada pelo site da Embrapa Meio-Ambiente.
Conforme explica Wallace Pazin, como parte da pesquisa foi possível isolar e identificar a substância ativa Artepilina C. Esta molécula é a principal responsável por mecanismos de ação contra patógenos de várias espécies, principalmente pelo potencial antioxidante, anti-inflamatório e anticancerígeno.
Após o isolamento da substância bioativa e avaliação da atividade antifúngica, Pazin observou também que os compostos presentes no própolis verde com maior bioatividade são capazes de interagir com a membrana celular, a película que envolve a célula. A Artepilin C se mostrou capaz de alterar as propriedades da membrana, o que permite que a molécula seja mais eficiente no controle da doença. Parte do trabalho foi publicada no periódico científico European Biophysics Journal.
Sustentável e acessível
"A aplicação de um produto baseado no própolis para inibição do crescimento dessa espécie de microrganismo está em fase de desenvolvimento. Com um antifúngico acessível, pequenos agricultores poderão ser beneficiados com a tecnologia para o controle de doenças provocadas pelo fungo P. aphanidermatum, com a vantagem que será um produto natural, não tóxico e seguro para o consumo humano e para o meio ambiente", diz Wallace Pazin ao site da Embrapa.
Ele lembra que foram identificadas no Brasil mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão, chamadas indígenas, que são uma potencial fonte de produtos farmacológicos naturais, como própolis e mel.
Cada espécie de abelha é capaz de coletar substâncias de plantas e formar diversos tipos de própolis, que são dependentes do ambiente em que vivem e das fontes vegetais que esses insetos possuem para coletar. O própolis tem a função de manter a ação antimicrobiana dentro das colônias as protegendo, assim, de microrganismos nocivos.
De acordo com o estudo da USP, o Cerrado é uma rica fonte de biodiversidade e possui uma grande concentração da planta da espécie Baccharis dracunculifolia, conhecida como alecrim-do-campo, que tem uma constituição química similar ao do própolis verde. A descoberta também despertou o interesse pela espécie vegetal como fonte de novos compostos bioativos naturais.
"Como os compostos encontrados em um ou em outro própolis diferem, sugerimos que há novos compostos ainda não identificados no própolis da abelha indígena que pode ter garantido essa ação antioxidante e que precisam ser mais estudados", afirma Pazin. Em sua pesquisa, ele descobriu que o própolis coletado pela abelha nativa Melipona quadrifasciata anthidiodes, conhecida como mandaçaia, apresentou ação antioxidante tão significativa quanto o produzido pela abelha-europeia.
(com assessoria de comunicação da Embrapa Meio-Ambiente)