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Saúde

Cientistas criam néctar para combater a leishmaniose

Solução doce afeta o vetor da doença, o mosquito-palha

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- Foto: Pexels

Você sabia que os mosquitos flebotomíneos – transmissores das leishmanioses, mais conhecidos como mosquitos-palha – também se alimentam naturalmente do néctar das flores e são atraídos por líquidos açucarados? Levando em conta esse hábito, cientistas descobriram uma estratégia de controle vetorial usando armadilha feita com água e açúcar combinados com inseticidas, que pode ser borrifada sobre plantas ou pedaços de algodão, transformando-os em iscas para os insetos. Isso faz parte de um estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) da Fiocruz e publicado no final de 2018 na revista científica Parasites and Vectors.

A pesquisa usa compostos naturais de plantas, chamados de glicosídeos, e seus derivados, contra o parasita Leishmania, causador da leishmaniose, e mostra que, quando administrados aos flebotomíneos por meio de iscas açucaradas, algumas dessas substâncias diminuem a quantidade de protozoários presente nos insetos, assim como reduzem a longevidade dos vetores.

Segundo os autores, os resultados indicam que as moléculas são promissoras para o desenvolvimento de iscas açucaradas para controle vetorial e bloqueio da transmissão das leishmanioses, com menor risco de desenvolvimento de resistência entre os insetos e de danos ambientais. "Os glicosídeos são açúcares de plantas que constituem uma defesa natural contra isentos herbívoros e já vêm sendo estudados para o controle de pragas agrícolas. Por isso, decidimos avaliar sua ação contra os flebotomíneos, como uma alternativa sustentável aos inseticidas. Para nossa grande surpresa, observamos que eles não são tão tóxicos para os flebotomíneos, mas atuam sobre os parasitas Leishmania, que se desenvolvem no intestino dos insetos, o que pode ser positivo para o desenvolvimento de novas ferramentas de controle vetorial", esclarece o pesquisador Fernando Genta, do IOC, coordenador do estudo, em entrevista para a Agência Fiocruz.

A pesquisa avaliou quatro substâncias, sendo dois açúcares glicosídeos – esculetina e amidalina – e duas moléculas derivadas desses compostos – esculina e mandelonitrila. Soluções de água com açúcar combinadas com as diferentes substâncias foram utilizadas para produzir as iscas açucaradas, oferecidas aos flebotomíneos como fonte de alimentação. Os melhores resultados foram observados com a mandelonitrila. Testes em cultura de células mostraram efeito sobre todas as espécies de Leishmania avaliadas, incluindo L.
mexicana, L. amazonensis e L. braziliensis, causadoras da leishmaniose tegumentar americana, e L. infantum, agente da leishmaniose visceral americana.

Nos ensaios com flebotomíneos infectados por L. mexicana, a mandelonitirila diminuiu em um terço a quantidade de vetores infectados e provocou redução de 65% no número médio de protozoários encontrado nos insetos. Além disso, a substância reduziu a longevidade dos vetores. Entre os machos, o tempo de vida média foi reduzido em 59% (de 17 para sete dias), enquanto entre as fêmeas, a queda foi de 33% (de 15 para 10 dias). Todos os experimentos foram realizados com flebotomíneos da espécie Lutzomia longipalpis, principal transmissora da leishmaniose visceral americana, usada como modelo para pesquisas.

Os pesquisadores ressaltam que a mandelonitirila é um composto estável e de baixo custo, que apresenta muito baixa toxicidade para mamíferos. As características são consideradas favoráveis para o desenvolvimento das iscas açucaradas como ferramenta de controle vetorial. "A mandelonitrila é um derivado do glicosídeo amidalina, encontrado em sementes, raízes e folhas de amêndoas, ameixa e pêssego, entre outras plantas. Considerando sua baixa toxicidade em mamíferos, compostos relacionados a essa substância podem ser avaliados para o controle das leishmanioses também em outros projetos de pesquisa", diz a pesquisadora Tainá Neves Ferreira, principal autora do estudo.

(com Agência Fiocruz).