
Um estudo publicado na última terça, dia 29 de janeiro, na revista científica Scientific Reports, traz uma tecnologia que parece retirada dos filmes de ficção: ela é capaz de "ler" o pensamento. Cientistas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, conseguiram criar uma forma de analisar as atividades cerebrais e transformá-las em fala clara e inteligível. A informação foi divulgada pela emissora estatal alemã Deutsche Welle.
No experimento, foi possível processar palavras ouvidas por voluntários e reconstruí-las por meio de uma voz artificial, usando sintetizadores de fala e inteligência artificial. Segundo os pesquisadores, a técnica pode levar a novas formas de os computadores se comunicarem diretamente com o cérebro e, no futuro, reproduzir não só o que pacientes ouviram, mas também o que estão pensando.
Com isso, a expectativa é que seja criada uma forma de pessoas que perderam a fala a recuperarem a capacidade de se comunicar com o mundo exterior. Isso inclui vítimas de derrames ou portadores de doenças como a esclerose lateral amiotrófica (ELA).
"A voz nos permite nos comunicar com amigos, família e o mundo a nossa volta, por isso perder a fala é tão devastador. Com o estudo, há uma eventual maneira de restaurar esse poder. Mostramos que, com a tecnologia certa, o pensamento dessas pessoas pode ser decodificado e entendido por qualquer ouvinte", comenta o neuroengenheiro Nima Mesgarani, um dos autores da pesquisa, em entrevista à Deutsche Welle.
Para reproduzir a fala, os cientistas utilizaram um instrumento conhecido como vocoder, que é um algoritmo de computador capaz de sintetizar a voz após ser treinado com gravações de pessoas falando. "É a mesma tecnologia usada pelo Amazon Echo ou pela Siri, da Apple, para dar respostas verbais às nossas perguntas", explica Mesgarani.
Para ensinar o vocoder a interpretar atividades cerebrais, a equipe da Universidade de Columbia fez experimentos com pacientes que sofrem de epilepsia e que estavam passando por cirurgias no cérebro – por isso, a equipe aproveitou que o crânio deles já estavam abertos.
"Pedimos a esses pacientes que ouvissem frases ditas por pessoas diferentes enquanto medíamos os padrões das atividades cerebrais", diz Mesgarani à emissora alemã. "Esses padrões neurais treinaram o vocoder", completa o cientista.
Em seguida, esses mesmos pacientes ouviram uma gravação contando de zero a nove, enquanto seus sinais cerebrais eram registrados e enviados ao vocoder por meio de redes neurais – um tipo de inteligência artificial capaz de imitar a estrutura dos neurônios de um cérebro humano.
O resultado foi uma voz robótica recitando os mesmos números ouvidos pelos pacientes. "O sensitivo vocoder e as poderosas redes neurais reproduziram os sons ouvidos originalmente com surpreendente precisão", afirma Nima Mesgarani.
(com Deutsche Welle)